A Fera na Selva

A obra A Fera na Selva é um clássico da literatura mundial, escrita por Henry James e publicada em 1903. Há mais de duas décadas, a atriz Eliane Giardini (Deslembro) descobriu uma adaptação para o teatro com texto da francesa Marguerite Duras, e a encenou no Brasil junto com seu então marido Paulo Betti (Chatô: O Rei do Brasil). O casal, agora separado, reedita a parceria, dessa vez no cinema.

A Fera na Selva, como bem definiu o veterano diretor de fotografia e codiretor do filme Lauro Escorel (Toda Nudez Será Castigada), é um minueto entre João (Betti) e Maria (Eliane), professores na mesma escola - ele de português, ela de literatura. Mas os dois se encontraram duas vezes antes de se tornarem colegas. João revelou a Maria no primeiro encontro que sabia estar predestinado para algo extraordinário, assombroso até, e mesmo sem saber do que se tratava, tinha se colocado à espera a vida toda. E Maria se propôs a dividir com ele esse fardo. Enquanto isso, a vida acontece.

O segundo trabalho de Paulo Betti na direção, depois de Cafundó (2005), foi filmado em Sorocaba e arredores, cidade em que Eliane nasceu, e Betti cresceu. O projeto ganhou assim contornos familiares, com a presença da filha do casal, Juliana Betti, no elenco e na produção do elenco, que conta ainda com a participação de dois irmãos de Paulo. Betti disse ter se inspirado em filmes como o clássico Limite (1931), de Mário Peixoto, na triloia de Celine & Jesse do trio Richard Linklater, Ethan Hawke e Julie Delpy, e ainda no filme de François Truffaut, O Quarto Verde (1978), também uma adaptação de Henry James.

Eliane, Paulo e Lauro, que colaboraram na direção, sabiam se tratar de um filme “palavroso”, sem negar as raízes teatrais do projeto. E Lauro Escorel faz um ótimo trabalho ao levar os personagens para locações belíssimas, muitas delas cercadas por uma natureza exuberante, como se a fera estivesse mesmo à espreita na selva, a assombrar o casal. A afinidade entre os protagonistas, de palco e de vida, transborda na tela e ameniza o ritmo vagaroso, a intensidade da investigação existencial da trama, talvez excessivamente abstrata. Mesmo assim, é impactante embarcar na encenação da reflexão inquietante de Henry James sobre a vida.

A Fera na Selva estreou no Festival de Gramado de 2017 e recebeu o Prêmio Especial do Júri pela Contribuição à Arte Dramática. Ao longo desses últimos dois anos, Paulo Betti coordenou um trabalho junto a escolas com materiais do filme e a participação de colegas da produção sobre adaptação literária para o cinema, com resultados louváveis.

Ficha Técnica

Assista Agora!