A Acusação

Olha a situação. Um estudante da prestigiada Stanford, na Califórnia, chega a Paris para a cerimônia de entrega da medalha da Legião de Honra ao pai, um influente jornalista. O homenageado não vai receber o filho porque está num hotel com uma colega de trabalho. A mãe, uma renomada ensaísta, também não vai vê-lo porque está em um debate sobre imigrantes ilegais e crime sexual. À noite, o rapaz concorda em levar a filha do namorado da mãe a uma festa. No dia seguinte, acorda com a polícia na porta e uma acusação de estupro.

Disponível para assinantes e aluguel avulso na plataforma Reserva Imovision, A Acusação coloca o espectador na fileira do júri e o confronta com os próprios valores morais na busca pela verdade. Estão em julgamento não só o acusado e a suposta vítima, mas a sociedade contemporânea. Inspirado no premiado romance de Karine Tuil, Les Choses Humaines (Coisas Humanas em português), o filme faz a anatomia do caso por três perspectivas: da acusação, da defesa e do flashback da noite fatídica.

A Acusação é drama de tribunal, drama familiar e um projeto em família – estrelado, por sinal. O cineasta Yvan Attal comanda o filho, Ben Attal (O Orgulho), e a esposa, Charlotte Gainsbourg (Noites de Paris). Ao lado do veterano Pierre Arditi (A Casa de Veraneio), os dois formam o clã Farel, gente  abastada, mas de laços frágeis. Embora crentes na alegação de inocência do filho, os pais parecem mais preocupados em manchar a própria imagem na mídia e não hesitam em tentar um acordo financeiro com a jovem.

Do outro lado, vemos a classe trabalhadora na pele do pai professor (Mathieu Kassovitz), a rigidez religiosa na figura materna (Audrey Dana) e a moça  (Suzanne Jouannet) criada em um ambiente de pouco diálogo e muita cobrança. Claro que o romance entre os personagens de Charlotte e de Kassovitz vai pelos ares, e com ele desaparece o ponto de equilíbrio entre as duas realidades. Dessa dualidade ergue-se um preciso retrato do mundo atual, em que consciência social e lacração surfam na onda da hipocrisia.

No roteiro coescrito por Attal, o melhor está reservado aos testemunhos e aos argumentos finais no tribunal. Relatos incisivos dos pais do acusado lançam luz sobre legados familiares. Já a advogada aciona o movimento #metoo para legitimar sua cliente, enquanto o advogado de defesa desconstrói sua postura ingênua. É a voz dos dois jovens, porém, que dá a real dimensão da zona cinzenta ao redor da percepção de cada um da relação sexual. Ninguém sai ileso, nem o veredicto.

Ficha Técnica

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