Wonka

Escrito pelo britânico Roald Dahl em 1964, A Fantástica Fábrica de Chocolate entrou duplamente no imaginário cinéfilo. Temos o clássico de 1971, com Willy Wonka eternizado por Gene Wilder, e a versão de Tim Burton, que em 2005 colocou Johnny Depp na pele do excêntrico personagem. Fantasiar como teria sido a juventude do chocolateiro foi ideia de Paul King, que conquistou a criançada com As Aventuras de Paddington (2014), também uma adaptação literária. Atração para toda a família, Wonka não foi lançado como musical, talvez para não espantar quem não gosta do gênero, mas já abre na cantoria.

Prestes a completar 28 anos em 27 de dezembro, mas com feições de garoto, Timothée Chalamet (Duna) incorpora um Willy Wonka ainda desprovido do humor cínico, e por vezes cruel, do personagem na fase adulta. Sonhador, otimista, generoso e ingênuo, ele desembarca na cidade grande após rodar o mundo por sete anos atrás de novos sabores. Seu plano é aprimorar o legado da mãe falecida (Sally Hawkins), que o introduziu à arte do chocolate, e abrir sua própria loja.

O choque de realidade é forte. Wonka é ludibriado pela dona da pensão (Olivia Colman) e se torna devedor. E o sucesso de suas criações o coloca na mira dos três fabricantes que formam o cartel do chocolate. Para boicotá-lo, os vilões terceirizam as malvadezas com um chocólatra chefe de polícia (Keegan-Michael Key). Do lado bom, Wonka ganha uma aliada, a esperta adolescente Noodle (Calah Lane), que também mora na pensão e tem uma vida triste. Entre uma canção e outra, eles bolam artimanhas para enfrentar a concorrência, pagar suas dívidas e se tornarem livres. É simples assim, talvez até ordinário demais.

Assim como a doceira interpretada por Juliette Binoche em Chocolate (2000), Wonka é sensível e empático. Capta a peculiaridade do cliente e dá um toque mágico nas delícias que provocam sensações únicas e inexplicáveis. O produtor, David Heyman, é o mesmo da saga Harry Potter, e acerta novamente na dose de comédia, aventura e açúcar. Também escala dois feras em participações especiais: Hugh Grant como um Oompa-Loompa e Rowan Atkinson, o Mr. Bean, no papel de um padre todo atrapalhado.

Das canções inéditas, a única que empolga é “A World of Your Own”. A emoção vem da nova versão de “Pure Imagination”. Wonka é repleto de boas intenções e mensagens edificantes. Mas, sinceramente, fazem falta o pequeno Charlie e o grupo de crianças problemáticas em suas aventuras pela fantástica fábrica de chocolate. A bilheteria mundial ultrapassou US$ 550 milhões, mas a tendência é que Wonka fique na memória como um adorável apêndice do clássico.

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