Verão de 85

1985 foi o ano em que François Ozon leu o romance do britânico Aidan Chambers, Dance On My Grave. Tinha 17 anos e a história o tocou de tal forma que sonhava adaptá-lo em seu primeiro longa-metragem. Mais de 20 filmes depois, o agora premiado cineasta finalmente realiza o projeto de juventude, e o tem como um respiro terapêutico depois do pesado Graças a Deus, drama sobre pedofilia na igreja francesa que lhe rendeu o Grande Prêmio do Júri em Berlim 2019.

Verão de 85 é solar e ambientado durante as férias em uma cidade praiana da Normandia. Tem as cores fortes da moda daquela década no figurino e se deixa embalar pela canção “In Between Days”, da banda The Cure, e por outros sucessos do New Wave. Nosso protagonista, porém, é obcecado pela morte. Aos 16 anos, Alex (Félix Lefebvre, O Professor Substituto) a vê de perto quando o veleiro Laser que pegou emprestado vira e o deixa à deriva no mar. Seu salvador é David (Benjamin Voisin, O Príncipe Feliz), rapaz sedutor de 18 anos, que perdeu o pai há pouco e vive em uma casa luxuosa com a mãe (Valeria Bruni Tedeschi, A Casa de Veraneio).

Esses dois vão se tornar inseparáveis, mas isso a gente sabe pelos flashbacks, porque no presente Alex está sendo acusado de algo grave (que não se revela de primeira), que pode levá-lo aos tribunais. Ele não abre o jogo com a assistente social que o interroga, e só começa a se comunicar com a ajuda do professor de literatura (Melvil Poupaud, de Graças a Deus), que o encoraja a escrever sua versão do ocorrido. Verão de 85 transita entre o suspense e o rito de passagem, uma sacada esperta do também roteirista Ozon, que dá potência à narrativa com o mistério a desvendar.

Ozon não problematiza a homossexualidade. Seu filme é sobre uma relação amorosa entre dois jovens que estão em busca de si mesmos, um processo atemporal e universal que independe do gênero ou da orientação sexual. Alex encontra a própria voz na escrita, e através dela analisa seus sentimentos. Filmado em 16mm, Verão de 85 tem o granulado nostálgico de uma época desplugada e sem a exposição típica do século 21, um mundo em que tudo era mais íntimo e pessoal. Saudades de 1985.

Ficha Técnica

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