Ressurreição

O diretor Kevin Reynolds adora personagens históricos, sejam eles lendários ou reais. Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões (1991), O Conde de Monte Cristo (2002) e Tristão & Isolda (2006) são exemplos. Jesus de Nazaré entrou para a lista em Ressurreição (2016), embora o Messias seja coadjuvante. O protagonista é o tribuno romano Clavius, interpretado com convicção por Joseph Fiennes (Shakespeare Apaixonado). Ao apresentar o episódio bíblico pela perspectiva de um cético sanguinário, Reynolds injeta frescor ao gênero “religioso”.

Ressurreição funciona como um policial detetivesco, com narrativa ágil e realista. Não há nada de divino na recriação da crucificação de Cristo, que acontece em um beco e, apesar de os soldados romanos notarem a população meio inquieta, o nazareno é retratado como mais um baderneiro condenado à morte pelo prefeito, Pôncio Pilatos (Peter Firth). Os cenários são sujos, poeirentos, nenhuma luz celeste incide sobre a cruz. Esse visual tosco gera uma atmosfera ordinária e autêntica.

Braço forte de Pilatos, Clavius tenta acalmar os ânimos e decide abreviar o sofrimento dos réus, momento em que Jesus (Cliff Curtis) morre atingido pela lança. A dimensão daquela execução aparentemente corriqueira começa a se revelar quando o corpo de Jesus desaparece do túmulo três dias depois. Clavius é incumbido de resgatá-lo e diminuir o impacto da suposta ressurreição prevista pelos profetas que anunciaram a vinda do Messias. Seu parceiro de investigação é Lucius (Tom Felton, da saga Harry Potter).

A suspeita recai sobre os apóstolos e os interrogatórios, em especial com Maria Madalena (María Botto), são a melhor parte do filme. O senão é que Reynolds tem um anti-herói como protagonista, e no segundo ato se debruça sobre a transformação de Clavius. O tribuno é uma máquina de guerra, mas sofre de estresse pós-traumático. A jornada espiritual breca o ritmo, e a partir de seu encontro com Jesus a trama envereda para o dramalhão.

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