Me Sinto Bem Com Você

Não é coincidência que os protagonistas do novo filme de Matheus Souza também se chamem Tom e Adriana, como os de seu longa de estreia, Apenas o Fim (2008), eleito melhor filme pelo público do Festival do Rio e da Mostra de Cinema de São Paulo, façanha para poucos. O diretor e roteirista diz que “Me Sinto Bem Com Você é como uma sequência espiritual, é real e sincero, como Apenas o Fim foi um dia, mas mais plural”.

É justamente esta pluralidade, ou como diz o diretor, este coletivo, a marca da distinção, mas também evolução, entre os dois filmes. Se em Apenas o Fim o casal formado por Gregório Duvivier (A Vida Invisível) e Érika Mader (Ana e Vitória) ocupava o centro da trama com uma DR, agora são quatro casais e duas irmãs que discutem as relações. Nesse espírito, o roteiro foi escrito a oito mãos pelo diretor em parceria com as atrizes Manu Gavassi, Amanda Benevides e Gabz.

Produzido e lançado na pandemia, diretamente para o streaming, o filme reflete na dramaturgia e na produção os efeitos do isolamento. Como seus personagens, acolhe essa condição na sua essência, e por isso mesmo reflete o cotidiano da grande maioria de nós, restritos aos muros e às paredes das nossas casas e dos nossos apartamentos. Matheus Souza não aborda a pandemia “por fora”, suas eventuais causas e problemas. Prefere tratar de como estamos nos sentindo, de dentro para fora.

Para isso, o filme-mosaico é ideal. Agora o próprio diretor interpreta Tom, para quem Adriana (Manu Gavassi), a problemática ex-namorada, manda mensagem e liga na solidão do isolamento. Dora (Thati Lopes) e Fernando (Victor Lamoglia) começam a se estranhar, depois de três anos juntos, pela convivência constante. Eduardo (Richard Abelha) e Helena (Amanda Benevides) tentam manter à distância o sexo sem compromisso. Giovanna (Gabz, Minha Fama de Mau) e Priscilla (Clarissa Müeller, Ana e Vitória) acabaram de se encantar uma com a outra e não querem desistir do amor que está por vir. E as irmãs Vanessa (Thuany Parente) e Lívia (Bel Moreira, Eu Fico Loko) recorrem à memória da mãe para reencontrar o vínculo entre si e com o presente.

É curioso ver as histórias dessas duplas se desenrolarem intermediadas por telas, invadidas por textos de mensagens, muitas vezes como numa live, com o sofá ou estantes ao fundo, ainda que a fotografia e a direção de arte tenham se encarregado de lhes dar acabamento cinematográfico, ajudadas pela trilha sonora com canções originais do diretor e Thuany Parente. A exceção bem-vinda de Dora e Fernando, literalmente, faz o filme respirar (já que Thati e Victor são casados e filmaram juntos, no mesmo plano).

O roteiro, nem sempre regular, ganha envergadura no brilho do elenco, apesar da limitação natural de ensaiar via zoom. Manu Gavassi, Thati Lopes e Victor Lamoglia já haviam trabalhado juntos em Socorro, Virei Uma Garota!. Matheus Souza faz uma terna homenagem ao saudoso Domingos de Oliveira (1935-2019), entusiasta de seu trabalho, com a participação especial da viúva do cineasta, Priscilla Rozenbaum (série Todas as Mulheres do Mundo).

Ficha Técnica

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