Jungle Cruise

Entre as melhores memórias da infância tenho guardada no coração a primeira vez no Disney World, especialmente no parque Magic Kingdom em Orlando, na Flórida. Fora o castelo da Cinderela, claro, os brinquedos Jungle Cruise e Piratas do Caribe ficaram no topo dos preferidos com seus exóticos passeios de barquinho. Depois dos US$ 4,5 bilhões que os cinco longas da franquia Piratas do Caribe fizeram pelo mundo, e dos fraquinhos Tomorrowland e Mansão Mal-Assombrada, a Disney dá continuidade ao projeto de transformar as atrações dos parques em cinema com o divertido Jungle Cruise.

Inaugurado na Disneylândia em 1955, o brinquedo foi inspirado pela aventura romântica de Humphrey Bogart e Katharine Hepburn no clássico de John Huston, Uma Aventura na África (1951). Os visitantes sobem a bordo do barco comandado por um capitão falastrão, que conta piadas infames enquanto conduz os incautos pela selva artificial, habitada por animais mecânicos. É uma jornada feita sob medida para crianças, sem maiores sustos, e o diretor espanhol Jaume Collet-Serra (Noite Sem Fim) é fiel à proposta.

Para dar corpo à empreitada, um time de roteiristas estrelados - entre eles Michael Green (Logan e Blade Runner 2049) - criou a história da Dra. Lily Houghton (Emily Blunt, Um Lugar Silencioso), uma pesquisadora botânica destemida que viaja da Inglaterra dos anos 1910 para o Brasil, determinada a desbravar a floresta amazônica e encontrar uma lendária árvore com poderes curativos que pode mudar o futuro da medicina. Com ela vem o irmão, McGregor (Jack Whitehall), que de corajoso não tem nada. No vilarejo de Porto Velho, Lily contrata o capitão Frank Wolff (Dwayne Johnson, Jumanji – Próxima Fase) para levá-los rio abaixo em seu barco.

No rastro da trinca está o príncipe alemão Joaquim (Jesse Plemons, Estou Pensando em Acabar com Tudo), que planeja se apossar das pétalas mágicas para vencer a Primeira Guerra Mundial, e Aguirre (Edgar Ramírez, Wasp Network), um conquistador amaldiçoado que ressurge com comparsas monstruosos. O enredo bebe na fonte de dois sucessos oitentistas: Tudo por Uma Esmeralda, com o flerte e as provocações constantes entre Lily e Frank, e Indiana Jones, com sua versão feminina e feminista cheia de graça moldada por Emily. Além da protagonista à frente de seu tempo, o enredo ganha modernidade e representatividade com o irmão gay de Lily e o retrato positivo dos indígenas.

Não era preciso mais de duas horas para se contar essa história, e são válidas as críticas da ausência de brasileiros no elenco e descuidos históricos, como a citação da moeda nacional da época como “reais” e não “réis”. Detalhes que devem incomodar exclusivamente o público brasileiro. Jungle Cruise guarda revelações imprevisíveis para o final e capricha na mescla de humor e ação que deixa crianças e adultos ligados, mas fica a dúvida se emplaca como franquia. A bilheteria dirá.

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