Contratempos

São menos de 90 minutos, mas de pouco respiro. Para o público e para Julie, a personagem que deu a Laure Calamy o troféu de Melhor Atriz na Mostra Horizontes do Festival de Veneza 2021. Contratempos é o tour de force físico e emocional de uma mulher que luta sozinha para criar os filhos no subúrbio e manter o emprego em Paris. A já complicada rotina vira um transtorno quando eclode uma greve no transporte público.

Quem acompanha a frenética jornada é Eric Gravel, cuja direção também lhe valeu prêmio em Veneza. OQVER conversou pessoalmente com o cineasta durante sua passagem por São Paulo para o Festival Varilux (veja a seguir), em junho. Julie é camareira de um hotel de luxo, mas tem formação superior e mestrado. A cidade vira um caos justamente quando ela precisa se desdobrar para chegar às entrevistas do  emprego dos sonhos. O ex-marido é ausente, a conta está no vermelho e ela ainda tem um crédito imobiliário a honrar. Sem poder pagar uma babá, deixa os filhos aos cuidados de uma vizinha idosa, que tem reclamado dos atrasos. Julie precisa urgente de uma boa notícia.

Laure Calamy arrancou risos gostosos no recente Minhas Férias com Patrick (disponível em streaming), e embora o registro aqui seja dramático, Eric Gravel escalou a atriz por seu espírito cintilante. “A personagem passa por um período conturbado, mas queria que o público sentisse que era uma pessoa muito alegre quando estava tudo certo em sua vida”, disse. Contratempos faz um retrato crítico da França atual, porém a ideia do diretor não era politizar o drama humano e sim promover um encontro entre os conflitos internos de Julie e a realidade que a rodeia. Bom demais. 

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