Comer Beber Viver

Indicado ao Oscar de filme estrangeiro em 1995, Comer Beber Viver é o terceiro longa do taiwanês Ang Lee, que conquistou o mundo com O Tigre e o Dragão (2000) e ganhou a estatueta de melhor direção por O Segredo de Brokeback Moutain (2005) e As Aventuras de Pi (2012). Seu filme mais recente, Projeto Gemini (2019), com Will Smith, é um típico enlatado hollywoodiano amparado por incríveis efeitos digitais. Daí o convite de voltar ao início de sua carreira com esse intimista drama familiar, que tem o ritmo e a verve da cultura oriental.

O veterano Sihung Lung (O Tique e o Dragão) interpreta o sr. Chu, um renomado chef de cozinha, sócio de um requintado restaurante em Taipei, capital de Taiwan. Viúvo precocemente, ele criou sozinho as três filhas: a estudante Jia-Ning (Yu-Wen Wang), a executiva Jie-Chien (Chien-Lien Wu) e a professora católica e religiosa Jia-Jen (Keui-Mei Yang). Não é à toa que os realities gastronômicos fazem enorme sucesso. É relaxante e hipnotizante ver o sr. Chu preparar o tradicional banquete de domingo, quando reúne a prole para jantar.

Pois é em meio a toda sorte de iguarias que eles colocam os acontecimentos da semana em dia, mas é um encontro sóbrio, de parcos diálogos. A sensação de que a relação desse clã está estremecida se confirma quando Jie-Chien anuncia que investiu todas as suas economias em um apartamento em construção e que vai deixar o casarão em que todos vivem. O que Ang Lee faz a partir daí é passear pela rotina desse quarteto e observar seus sabores e dissabores amorosos. Jia-Ning, por exemplo, manobra para roubar o namorado da amiga, enquanto Jia-Jen ainda sofre por um amor de adolescência. Já a moderna Jie-Chien se basta com uma amizade colorida. O sr. Chu, por sua vez, tem sido paquerado pela mãe de uma amiga das filhas.

As delícias elaboradas pelo sr. Chu encontram seu lugar no cotidiano, e repare como naqueles anos 90 o machismo reinava entre os chefes de cozinha – Jie-Chien não esconde a frustração por não poder seguir os passos do pai. De grão em grão, Ang Lee ergue um mosaico familiar e deixa a impressão de que a vida vai simplesmente seguir previsível. Nada disso. O que o cineasta atesta aqui, com sua sagaz sensibilidade, é como o mundo dá voltas. Comer Beber Viver é um prato saboroso e cheio de surpresas.  

Ficha Técnica

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