Caminhos da Memória

Hugh Jackman já havia ficado encantado por Rebecca Ferguson como a cantora de O Rei do Show, e agora cai de joelhos por ela em Caminhos da Memória, novamente com a atriz soltando a voz. Mas já não estamos no ambiente circense e nem no século 19 do musical de 2017, e sim em uma Miami distópica e submersa pelas águas que avançaram em resposta à mudanças climáticas. Uma barragem separa os que moram em terra firme dos marginalizados que sobrevivem na área alagada, onde se trafega em barcos.

A diretora, roteirista e produtora Lisa Joy faz uma inversão inusitada dos carros voadores de Blade Runner – O Caçador de Androides, mas não esconde a inspiração no clássico de Ridley Scott. Cocriadora da série de ficção científica Westworld, ela estreia na direção de longas no mesmo gênero que a tornou famosa, mas segue à risca os códigos do cinema noir. A começar pelo protagonista que narra a própria história. Ele é Nick Bannister (Hugh Grant), veterano de guerra que construiu uma engenhoca que permite aos clientes acessar e reviver o passado. Sua parceira na empreitada é vivida por Thandiwe Newton (Westworld), com quem Nick serviu no exército.

A sessão nostalgia transforma a memória em uma imagem holográfica, que no caso da misteriosa Mae (Rebecca Ferguson) pretende ajudá-la a achar uma chave. É paixão à primeira vista e ela e Nick vivem um amor intenso e relâmpago, porque Mae desaparece sem aviso. A trama nada mais é que a odisseia em busca do paradeiro da amada, que o coloca no meio de uma violenta conspiração que revela o lado femme fatale de Mae. Sem novidades no front narrativo, daí a importância da qualidade da produção, que tem na equipe Jonathan Nolan, marido de Lisa, cocriador de Westworld e irmão de ninguém menos que o cultuado Christopher Nolan (A Origem).

Ambientação, cenários, figurinos, efeitos especiais e fotografia ajudam a sustentar e valorizar um enredo que de inovador tem pouco. Se caísse nas mãos de um elenco inferior, capaz de o naufrágio ser grande. Mas não. Há tempos Hugh Jackman não tem um personagem essencialmente romântico. Fora o caso turbulento entre Wolverine e Jean Grey na saga X-Men, só mesmo em Austrália (2008), ao lado de Nicole Kidman, ele fez um tipo guiado pela paixão. Ele e Rebecca são lindos e têm química. Tudo certo na seara amorosa.

Caminhos da Memória simula densidade ao explorar temas como o apego ao passado e a importância de se viver o presente, mas o mergulho é raso. A diretora parece gostar mais de comandar cenas de ação, e há sequências aquáticas impressionantes. Se o filme vai ficar na memória? Provavelmente não. 

Ficha Técnica

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