Bliss: Em Busca da Felicidade

O diretor Mike Cahill (O Universo no Olhar) roteirizou sua própria versão de Matrix na ficção científica Bliss: Em Busca da Felicidade, com direito a participação holográfica do cultuado e polêmico pensador esloveno Slavoj Zizek, autor de Vivendo no Fim dos Tempos. É de Zizek a frase “As pessoas estão dopadas, adormecidas. É preciso despertá-las”, objetivo nobre da filosofia do autor, que o diretor abraça em seu filme.

Greg Wittle (Owen Wilson, Extraordinário) está em crise. Separou-se recentemente, mora num quarto de hotel em Los Angeles, esquece da formatura da filha na universidade, descuida do trabalho, toma pílulas para depressão. Um incidente com o chefe após sua demissão o faz fugir e entrar no bar em frente à empresa. Lá, ele aceita o convite de uma mulher para beber na mesa dela, a mesma que aparece nos desenhos que Greg faz compulsivamente.

Ela é a articulada e esotérica sem-teto Isabel Clemens (Salma Hayek, Jantar com Beatriz). Logo afirma que os dois são almas gêmeas e algumas das poucas pessoas reais daquele mundo sombrio, cinzento-azulado e asfixiante, que não passa de uma simulação digital. Greg embarca na viagem e nas pílulas amarelas de Isabel, que dá a eles poderes cinéticos e os levam a destratar e agredir levianamente as pessoas “não-reais”.

Até que as pílulas azuis os transportam para o mundo real, espécie de ilha paradisíaca e ensolarada – com locações na Croácia –, onde os dois são um casal. Isabel é a cientista encarregada de experimentos sobre a busca da felicidade de quem todos duvidam, e Greg um respeitado pioneiro das pesquisas na área. Quem faz a ligação entre os dois mundos é a filha de Greg, Emily (Nesta Cooper, Quase 18), decidida a resgatar o pai do torpor depressivo em que se encontra.

Mike Cahill tem à sua disposição competência técnica para engendrar as duas realidades pelas quais seus protagonistas vagueiam, mas é menos feliz na caracterização deles, o que impacta a atuação de Owen Wilson e Salma Hayek. Na lógica do filme, esse descompasso pode ser justificado pela premissa Clube da Luta: da sequência do bar em diante, tudo pode ser um delírio de Greg Wittle “real”, dopado, adormecido, eventualmente “despertado” pelo amor alerta da filha, que não desiste dele, mesmo que ele próprio tenha desistido. Seja como for, com seus erros e acertos, Bliss: Em Busca da Felicidade é um petardo tão indigesto quanto necessário nestes tempos de multiplicação de desertos do real.     

Ficha Técnica

Assista Agora!