Bizarros Peixes das Fossas Abissais

Uma mulher com esdrúxulos superpoderes, uma tartaruga com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), uma nuvem com incontinência pluviométrica e um idoso solitário. Dos personagens à insólita aventura que vai do céu às profundezas do oceano, tudo é nonsense em Bizarros Peixes das Fossas Abissais. Só que não. O primeiro longa de animação de Marão não é para crianças, aposta no 2D tradicional e usa o absurdo para abordar um tema que pega o espectador desprevenido emocionalmente.

Não estranha que Rodrigo Santoro, Natália Lage e Guilherme Briggs tenham se encantado com o projeto e dublado a trinca central: tartaruga, heroína e nuvem. “A personagem é sugestiva, interessante e toca na questão da saúde mental mesmo sendo uma animação”, afirma Santoro no papo de OQVER com o diretor e os protagonistas (veja o vídeo a seguir). “É uma temática que visito desde Bicho de Sete Cabeças, depois em Heleno e como o Louco de Turma da Mônica - Laços.”

Com a voz de Natália Lage, a mulher vive as situações mais excêntricas. Seu bumbum se metamorfoseia em um gorila e o bichão é uma implacável arma contra rinocerontes extraterrestres que, assim como ela, estão na caça pelas peças de um misterioso mapa. “O drama que perpassa aquela maluquice é muito emotivo, profundo e poético”, comenta a atriz sobre sua primeira experiência na dublagem.

“O filme inteiro tem referências autobiográficas”, revela Marão. “Quando eles vão para o fundo do mar ou para a Sérvia, são momentos em que eu estava entrando na faculdade, conseguindo o primeiro trabalho, viajando para os festivais de curta-metragem e até enfrentando a situação do meu avô.” O longa segue a mesma lógica de seus curtas, nada de model sheet, storyboard e animatic. As cenas são improvisadas de modo teatral e em ordem cronológica.

A voz por trás de personagens icônicos como Buzz Lightyear, da saga Toy Story, e Optimus Prime, da franquia Transformers, Guilherme Briggs diz que interpretar a nuvem no estilo livre de Marão foi especial. “Você está ali com o criador e animador, que te deixa à vontade para acessar todos os sentimentos da personagem”, explica. “Na dublagem para produções da Disney e Universal, por exemplo, há um distanciamento, um executivo fala com o estúdio; o estúdio fala com o diretor; o diretor fala com o animador e o animador fala com você.”

Marão é autor premiado de 14 curtas e levou sua obra para mais de 660 festivais pelo mundo. A estreia foi em 1996, mas ele lembra que as primeiras animações foram feitas nos bloquinhos do armarinho do pai em Nilópolis, nos anos 1970. A loja inclusive está reproduzida em Bizarros Peixes das Fossas Abissais. Há novos projetos de longas de animação. O próximo será O Elevador, também em 2D.

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