Amor, Morte e Robôs Volume 2

Com cinco prêmios Emmy na bagagem conquistados com a primeira temporada, Tim Miller (Deadpool), criador do projeto, e David Fincher (Mank), ambos produtores executivos, lançaram a segunda temporada da antologia de curtas de animação Love, Death & Robots. São oito episódios de 11 a 18 minutos de duração. Miller dirigiu a adaptação de um de seus contos preferidos, O Gigante Afogado, do britânico J.G. Ballard, que fecha a série com chave de ouro, melancolia e um quê de filosofia. A terceira temporada já está prometida para 2022.

Desta vez, todos os episódios são adaptações de histórias curtas de escritores consagrados de ficção científica e fantasia, entre eles John Scalzi (Atendimento Automático ao Cliente) e Joe Landsdale (A Grama Alta), presentes nos créditos da primeira temporada, e Rich Larson (Gelo), Paolo Bacigalupi (Esquadrão do Extermínio), Neal Asher (Snow no Deserto), Joachim Heijndermans (Pela Casa) e Harlan Ellison (Gaiola da Sobrevivência), além de Ballard. A excelência técnica e artística continua o denominador comum dos distintos roteiros, traços e recursos das animações.

Se a redução do número de curtas, de 18 para 8, deveu-se ao isolamento da pandemia ou não, as tramas apocalípticas ecoam o momento do planeta, ainda que involuntariamente. Atendimento Automático ao Cliente não é exatamente original. Mas a história de uma senhora sujeita aos instintos assassinos de um robô doméstico provoca um efeito assustador nesses tempos de isolamento em que os serviços eletrônicos se multiplicaram. Some-se a isso uma estética pictórica, e somos imediatamente fisgados pela curiosidade.

Com Gelo, o diretor Robert Valley, indicado ao Oscar de curta de animação em 2016, por Pear Cider and Cigarettes, reproduz seus belos traços longilíneos nos personagens e cenários de algum lugar do futuro, em que humanos aperfeiçoados sinteticamente convivem com os “normais” rebaixados à categoria de frágeis. Inclusive dois irmãos prestes a embarcar numa aventura noturna, distinta da dos irmãos de Gattaca - A Experiência Genética, mas nem tanto.

Em Esquadrão do Extermínio, a ficção de Alfonso Cuarón, Filhos da Esperança, surge em um canto da memória quando um detetive encarregado de matar crianças naturais começa a questionar sua missão. Neste futuro, a humanidade conquistou a eternidade artificialmente, mas não pode procriar. Já em Snow no Deserto, o albino imortal Snow é perseguido por mercenários de olho na recompensa pelos seus genes. Nos dois, o tom de distopia angustiada e a estética noir lembram Blade Runner.

Michael B. Jordan (Creed II) entra numa Gaiola da Sobrevivência para aguardar o resgate sideral após a queda da sua aeronave num planeta qualquer, e é atacado por um robô avariado. O thriller claustrofóbico de diretor Harlan Ellison impressiona. A Grama Alta e Pela Casa não tratam de Amor, Morte & Robôs. São dois suspenses de horror menos impressionantes do que alguns de seus antecessores da primeira temporada, mas ainda assim de alta qualidade.

É mesmo o gigante de Ballard e Tim Miller, que aparece morto numa praia da Inglaterra para diversão geral de observadores, e depois, de usurpadores, que realmente nos faz pensar no futuro. Junto do monólogo interior existencialista do cientista designado para acompanhar o náufrago inusitado, assistimos a uma degradação simbólica dos egos agigantados e da insensibilidade que podem conduzir a humanidade às distopias da ficção.

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