A Próxima Pele

A Próxima Pele concorreu a nada menos que 14 troféus Gaudí 2017, o Oscar do cinema catalão. Saiu vitorioso como melhor filme, roteiro e atriz, para a esplêndida Emma Suárez – dirigida por Pedro Almodóvar em Julieta. O que diz o olhar longe de Ana, essa mulher contida cuja vida passou por dois grandes baques? Há oito anos, seu marido morreu e Gabriel, seu filho pequeno, desapareceu enquanto acompanhava o pai em uma caçada na neve. As circunstâncias da tragédia estão entre os mistérios que os diretores e roteiristas Isa Campo e Isaki Lacuesta lançam para o espectador.

Ana trabalha em uma estação de esqui nos Pinireus espanhóis e está no emprego quando recebe um telefonema sobre o paradeiro de Gabriel. O jovem localizado em uma instituição para delinquentes, porém, chama-se Leo (Àlex Monner, A Vida em Si), e ameaça se matar se o obrigarem a fazer um teste que comprove que ele é o garoto desaparecido. Leo sofre do que seu guardião Michel (Bruno Todeschini) chama de amnésia dissociativa. Mesmo assim, é levado de volta para casa.

Leo e Gabriel são ou não a mesma pessoa? Em ritmo de thriller, A Próxima Pele coloca o espectador em alerta, joga pistas aqui e acolá, mas não facilita o desvendar da charada. Como explicar, por exemplo, que Leo pareça reconhecer o primo, mas pouco fala de seu próprio pai. Os artigos de jornal da época do desaparecimento que ele lê recorrentemente fazem parte de uma farsa, ou ele tenta resgatar as memórias apagadas pelo trauma? E Ana, que comemora o retorno do suposto filho sem muito entusiasmo, como que amortizada por algum segredo?

A carga dramática é intensa e a dupla de cineastas trabalha a dúvida e a ambiguidade com o empenho de um elenco consciente da importância desse jogo duplo. A verdade vem à tona na cena final e o título, A Próxima Pele, se mostra revelador. Esse último instante é um banho de humanidade, como se todos os temas sutilmente abordados durante a narrativa se fundissem na visão da pele despida dos dois protagonistas.

Ficha Técnica

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