A Dona do Barato

Só mesmo a veterana Isabelle Huppert para transformar uma história estapafúrdia como a de A Dona do Barato em uma divertida comédia. É um papel inusitado para a estrela de dramas como A Professora de Piano e Elle, que lhe rendeu indicação ao Oscar em 2017, mas a verdade é que a diva francesa não para quieta e roda uma média de três filmes por ano. Sua personagem, Patience Portefeux, trabalha como tradutora de francês-árabe para o departamento de narcóticos de Paris. De vez em quando sai a campo para ajudar na comunicação em batidas policiais, mas sua especialidade são as escutas telefônicas.

Patience é viúva, mãe de duas filhas, tem um caso com o chefe, Philippe (Hippolyte Girardot, A Jovem Rainha), está atrasada no aluguel e pena para pagar um asilo para a mãe com Alzheimer. Pois em uma das escutas, ela descobre que o traficante que está em posse de toneladas de maconha, e prestes a ser emboscado pela polícia, é o filho da dedicada cuidadora da mãe. Em uma jogada implausível, mas engraçada e com detalhes que não vale revelar, nossa protagonista toma posse da droga e se torna a dona do barato do título.

O diretor Jean-Paul Salomé (Se Fazendo de Morto) adapta o romance da escritora e roteirista francesa Hannelore Cayre com humor farsesco. Os dois jovens traficantes árabes que intermedeiam as vendas da maconha são tipos burlescos, à beira do pastelão. O disfarce de Patience como dama do crime é pitoresco, mas não impede que o chefe note uma “certa” semelhança com sua intérprete favorita. E o que dizer do cão pastor alemão farejador que ela adota do departamento de narcóticos e vira seu parceiro de aventura no submundo.

É preciso um bocado de atrevimento para tornar crível uma ideia mirabolante como essa, mas Isabelle Huppert entra com tudo na brincadeira. O retrato da comunidade árabe nem sempre é lisonjeiro, mas A Dona do Barato não pesa a mão e ainda valoriza a sororidade. A inusitada parceria de Patience com a vizinha japonesa rende ótimas cenas. 

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