Nick Bilton é escritor e jornalista especializado em tecnologia. Foi colunista do prestigiado jornal New York Times, trabalhou para a badalada revista Vanity Fair e escreveu, entre outros, o livro O Escândalo do Twitter - Uma História Verdadeira de Dinheiro, Poder, Amizade e Traição. Em sua estreia como diretor e roteirista, ele se utiliza de dados afiados, às vezes assombrosos, da indústria dos influenciadores digitais e propõe um filme-experimento simples, mas ambicioso em seu triplo (pelo menos) objetivo.

Você sabia que 40 milhões de contas no Instagram têm mais de 1 milhão de seguidores? E mais de 100 milhões de perfis têm mais de 100 mil seguidores? O experimento de Bilton se propõe a transformar três pessoas, com poucos seguidores na rede social, em celebridades digitais instantâneas. O anúncio de testes para o “elenco” pergunta: “Você quer ser famoso?”. Houve 4 mil respostas e 40 candidatos foram chamados para o teste.

Os escolhidos foram a vendedora de loja de esportes e aspirante a atriz Dominique Druckman, o secretário pessoal de um corretor de móveis, Chris Bailey, e o estilista e rapper Wylie Heiner. Os três migraram de suas cidades natais para Los Angeles, atraídos pelo sonho cosmopolita. Começa então o processo de fabricação digital. Dezenas de sessões de produção profissional de fotos, poses, cenários, simulação de jantares, viagens, passeios na selva, banhos de mar e até a vista de um avião – seja com a locação de uma carcaça decorada ou com uma tampa de privada fotografada contra uma projeção de céu. Enquanto Dominique, Chris e Wylie postam suas fotos, o diretor Nick Bilton compra bots, perfis falsos para gerar likes e milhares de robôs para interagir com eles, nada ilegal.

O documentário acompanha de perto a reação do trio ao processo. Dominique se adapta, faz o jogo, chega a 250 mil seguidores em cinco meses, e começa a receber produtos e convites de viagens. Até testes (reais) de elenco começam a aparecer. Chris vê os níveis já altos de sua ansiedade aumentar, para de postar e começa a apagar os perfis e likes falsos. E Wylie recusa a estratégia, porque quer ser famoso por si só. Sequestrado pela pandemia, o experimento foi finalizado virtualmente, com uma autorreflexão de Dominique, sobretudo, sobre o poder e a ética da indústria da influência.

Assistir a Fake Famous é estarrecedor, mesmo para quem já sabe do que se trata. Com depoimentos de especialistas sobre o fenômeno e de altos executivos do marketing, responsáveis pelas custosas campanhas de vendas com influenciadores, Nick Bilton apresenta, denuncia e desmascara uma prática que conta com a ciência e condescendência das plataformas de redes sociais para alimentar algoritmos e gerar lucro. O diretor não pretende mergulhar fundo nos mecanismos – e seus responsáveis –, mas faz um alerta contundente. As imagens finais, de crianças surfando nessa mesma onda fake, confirmam a gravidade da situação.  

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