Os oito episódios de cerca de 20 minutos da série criada por Hilary Weisman Graham (Orange Is the New Black) apontam para um possível modo de produção cinematográfica em tempo de pandemia global. A tendência fora anunciada, experimentalmente, nos 17 curtas-metragens de Feito em Casa. Em Distanciamento Social, a dramaturgia incorpora as condições do isolamento de seu elenco para tratar de situações e temas constantes e comuns desta estranha experiência mundial, com os inevitáveis, e por enquanto únicos, recursos da tecnologia.

Aliás, a série escancara a utilização da tecnologia, tanto na produção quanto no roteiro, e o futuro dirá se é um recurso realmente necessário ou um modo de filmar mais cômodo e disponível. Qualquer que seja a resposta, soa precoce a proposta de injetar humor no mosaico das ações e reações à vida nas primeiras semanas da quarentena. Ao final dos oito episódios, o incômodo geral refletido na telinha se impõe, mas é interessante olhar para esse espelho multicultural, diverso e geracional da pandemia.

No primeiro capítulo, o embate com a solidão de um alcóolatra (Mike Colter, Cores da Justiça) em recuperação, obrigado a fechar sua barbearia, acerta nas notas do humor. Elas também dão o tom do segundo segmento, em que três irmãos latinos fazem um meeting on-line para o sepultamento do pai, na incômoda presença do amante dele (Miguel Sandoval, Objetos Cortantes). Já a troca proposta por uma cuidadora zelosa (Danielle Brooks, Orange Is the New Black), no terceiro episódio, não tem nada de engraçado: ela continua a atender sua paciente desde que a filha desta (Marsha Stephanie Blake, A Lavanderia), professora às voltas com a nova educação à distância, cuide de sua filha, obrigada a ficar o dia todo trancada no micro apartamento em que moram.

A dificuldade de um casal gay no novo desenho de convivência sem interrupções, tema da quarta história, é abordada com uma leveza que desaparece do quinto episódio em diante. Nele, um pai pouco presente fica totalmente responsável pelo filho pequeno, enquanto sua esposa sofre com o coronavírus, isolada no quarto de hóspedes. Na sequência, um casal de aposentados se desentende sobre como enfrentar a nova realidade, ela decidida a voltar ao trabalho como médica para ajudar na situação, ele (Dylan Baker, The Good Wife) sonhando com praia, sombra e água fresca.

O sétimo episódio dedica-se aos adolescentes conectados, mas com um olhar distinto. O romance prestes a acontecer entre uma garota filha de chineses e seu crush, gamer disputado, depois de uma confissão via avatares, naufraga quando ela descobre o preconceito dele contra sua ascendência oriental. Também é de preconceito que trata o último episódio, quando o jovem funcionário (Asante Blackk, Olhos que Condenam) do dono de um pequeno negócio de eventos pede para sair mais cedo, justamente no primeiro trabalho deles desde o início da quarentena. O motivo: seu desejo de protestar contra a morte de George Floyd, afro-americano assassinado por um policial branco em Minneapolis, em 25 de maio de 2020.

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