É um soco no estômago. É de cair em lágrimas. É um sopro de ar numa crise de pânico. O documentário Relatos do Front - Fragmentos de uma Tragédia Brasileira, do diretor Renato Martins (Geraldinos), exibido no Festival do Rio e na Mostra de Cinema de São Paulo 2018, é obrigatório. Se o tema principal do filme, coproduzido pela GloboNews e Globo Filmes, é a violência no Rio de Janeiro, Martins rege a intrincada teia de fatos, dados, acontecimentos e depoimentos de forma a transcender a cidade e trata da violência no País.

A premissa de Martins em seu filme é clara: a violência é um reflexo inegável da sociedade que a produz. Ele documenta como isso se dá na complexa confluência entre tráfico de drogas, indústria de armas, segurança pública, milícias e, sobretudo, a população carioca. Cada segmento tem seu estrato de representação no filme, articulado num roteiro e numa edição que os irmana, personagens que são de uma tragédia humana arquitetada no jogo de interesses políticos, econômicos, nacionais e internacionais.

Famílias de vítimas de balas perdidas no confronto entre policiais, milícias e civis, cidadãos. Famílias de policiais mortos em ação, cidadãos. Membros da segurança pública, da justiça, do tráfico, da favela, antropólogos, historiadores, jornalistas, cidadãos. Todos têm direito a voz e ponto de vista em seus relatos (na ficha técnica do filme, abaixo, estão todos listados no elenco). Juntos, traçam um retrato tão real quanto cruel da violência, uma fotografia dolorosa, mas reveladora. Com planos aéreos da cidade (ainda?) maravilhosa como a se lamentar.

Tecnicamente impecável, o filme não foge às regras clássicas do gênero - e nem precisa. Sua matéria-prima é a qualidade do conteúdo que extrai dos dados, das imagens da violência - a grande maioria registradas por celular -, das entrevistas e do fio que as entrelaça em direção a um sentido. Pode-se dizer que há certos exageros em algumas sequências, embora propositais,  com efeito de reforçar o absurdo da realidade da violência. O mesmo acontece com a trilha sonora. Nada que comprometa o alerta mais que necessário sobre os (des)caminhos da violência no Brasil. Um tapa na cara, daqueles bem dados.

Ficha Técnica

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