Vice

Ao receber o Globo de Ouro de melhor ator em comédia ou musical por Vice, Christian Bale agradeceu a Satã pela inspiração para viver Dick Cheney, vice-presidente no governo de George W. Bush (2001 a 2009). O sarcasmo é a força matriz desse retrato nada lisonjeiro pintado pelo diretor e roteirista Adam McKay, em nova parceria com o ator, que disputou o Oscar por A Grande Aposta (2015), uma visão pra lá de ácida de eventos ocorridos com um grupo de investidores às vésperas da crise de 2008.

Vice concorreu a 8 Oscar: melhor filme, diretor, ator, roteiro original, ator e atriz coadjuvantes (Sam Rockwell e Amy Adams, nos papéis de George W. Bush e Lynne Cheney), edição e maquiagem - e venceu apenas nesta última categoria. Os 20 quilos que Bale ganhou para dar vida ao bonachão Cheney não foram suficientes para bater Rami Malek e a proeminente prótese dentária usada na recriação de Freddie Mercury em Bohemian Rhapsody. 

A narrativa passeia no tempo para rechear o período entre a expulsão da renomada Universidade de Yale, nos anos 1960, até a saída do governo com a vitória do democrata Barack Obama nas eleições de 2009. Cheney agia nas sombras e impressiona sua influência nos bastidores do partido Republicano. Alguns (des)feitos da controversa figura: foi árduo defensor da Guerra no Iraque, arquitetou a invasão do Afeganistão pós 11 de Setembro, aprovou as torturas na prisão de Abu Ghraib.

McKay não poupa seu protagonista, mas desvia do maniqueísmo ao iluminar a vida em família, um ambiente em que Cheney surpreende no bom sentido. São 132 minutos de duração, mas o ritmo é ágil, o humor impera, o elenco de coadjuvantes é show e, quando se dá conta, o espectador percorreu cerca de meio século da história norte-americana – e mundial – ao seguir os passos de um sujeito que por pouco não se tornou técnico de uma empresa de eletricidade.

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