Verdade e Justiça

O primeiro longa-metragem do cineasta e roteirista Tanel Toom representou a Estônia no Oscar 2020 de filme internacional. A adaptação do romance de Anton Hansen Tammsaare é um projeto ambicioso. Não pelo tamanho da produção, mas pela saga emocional de seu protagonista em uma jornada que atravessa 24 anos. Andrés (Priit Loog) surge em 1896. Com rugas no rosto e olhar amargurado, ele pouco tem do jovem belo e altivo que, em 1872, chega com a esposa Krõõt (Maiken Schmidt) à fazenda que compraram. O sonho é pagar o empréstimo, se estabelecer e ter um herdeiro – homem, claro, para dar continuidade ao legado do pai.  

Conhecida como Ascensão do Ladrão, a área é pantanosa e a terra está maltratada. O vizinho de cerca, Pearu (Priit Võigemast), engrupe Andrés com um acordo de cooperação para a construção de uma vala que fornecerá água aos dois, mas com o detalhe de ficar toda nas terras dele. Essa é a primeira de uma série de desavenças e batalhas judiciais que irá levá-los inúmeras vezes aos tribunais, além de dar significado ao título, Verdade e Justiça. Mas é também o início de uma amizade improvável que se fortalece entre rusgas e cerveja.

Em que momento Andrés, homem digno e religioso, se deixa corromper pelas disputas com Pearu? É o que o diretor examina com acuidade e humanismo cortantes. Entre tantos apontamentos que a história levanta, o confronto entre amor e trabalho é o mais pungente e atual. A expressão “sem dor sem ganho” ganha um olhar crítico pela trajetória desse homem incansável. É possível amar a terra que tantos dissabores trouxe à família? Os filhos são obrigados a seguir os passos dos pais?

Tanel Toom não tem pressa para percorrer as mais de duas décadas. Sua narrativa absorve pela força de personagens autênticos e multifacetados, cujos atos não cessam de surpreender – para o bem e para o mal. Verdade e Justiça transporta o espectador para um vilarejo rural do pequeno país Báltico, ambienta a trama no século 19 e abraça temas atemporais e universais com gravidade, mas sem jamais perder a esperança. Não é pouca coisa.

Ficha Técnica

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