Um Lindo Dia na Vizinhança

Sabe uma pessoa que é tão boa, tão gentil e amável que não parece ser real? Fred Rogers (1928-2003) era assim. Por mais de 30 anos, ele apresentou o programa infantil MisteRogers’Neighborhood, em que brincava com as crianças em um cenário lúdico, transmitia mensagens positivas, palavras de alento e afeto. Com fala lenta e tom de voz baixo, Fred Rogers era a melhor influência possível. Não dá para pensar em mais ninguém (a não ser o saudoso James Stewart) melhor que o maior bom moço de Hollywood, Tom Hanks, para interpretá-lo. Imensamente querido pelos americanos, Rogers tem seu legado de fraternidade revelado ao mundo em Um Lindo Dia na Vizinhança.

Hanks concorreu ao Oscar de melhor ator coadjuvante, porque o protagonista é Matthew Rhys (O Relatório). O personagem, Lloyd, é inspirado no jornalista Tom Junod, autor do artigo “Can You Say ... ‘Hero’?” (Você Pode Dizer... Herói?), publicado na revista Esquire em 1998 e que serviu de base para o roteiro. No filme, ele recebe a contragosto a tarefa de entrevistar Fred Rogers. Sujeito cético, amargurado, traumatizado pela morte precoce da mãe e inconformado pelo abandono do pai (Chris Cooper), Lloyd desconfia da polidez do apresentador e está certo que vai descobrir um lado negro no entrevistado. Não imagina a força com que a aura de bondade de Rogers vai afetá-lo.

A diretora Marielle Heller arrancou uma atuação indicada ao Oscar de melhor atriz para Melissa McCarthy por Poderia Me Perdoar? (2018), história real de uma decadente escritora de perfis que se tornou golpista ao forjar cartas de celebridades para vender. A antipática e avessa Lee Israel está no extremo oposto do sereno e afável Fred Rogers. E entre eles há uma cineasta interessada nas peculiaridades de seus personagens, sejam para o bem ou para o mal.  

No caso de Um Lindo Dia na Vizinhança, o enredo esbarra na pieguice em certos diálogos que parecem saídos de livros de autoajuda. O apresentador vai sim transformar a maneira com que Lloyd lida com os percalços da vida, e o fato de a história ser verdadeira só aumenta o apelo dramático. É um tantinho açucarado, mas faz muito bem saber da existência de pessoas como Fred Rogers. Que sirva de exemplo. Dica: veja vídeos dele na internet, para ter noção do quão perfeita é a atuação de Tom Hanks.

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