Samy e Eu

Samy é argentino, tem 39 anos, é roteirista de um programa de humor na TV, mas planeja terminar seu primeiro romance antes dos 40. Tímido, neurastênico, pessimista e autodepreciativo, ele fica um degrau abaixo dos personagens de Woody Allen, mas segue o mesmo estilo, com direito à mãe judia superprotetora, irmã intrometida e namorada egocêntrica. Sua insossa rotina é quebrada pelo encontro com Mary, uma jovem colombiana que o confunde com outra pessoa. Pois essa moça agitadíssima enxerga todo o potencial de Samy e dá um jeito de produzir um reality show sobre a vida dele.

A Buenos Aires do comecinho dos anos 2000 é o cenário dessa comédia romântica que suga toda a verve da filmografia de Woody Allen. Se falta originalidade ao roteiro coescrito pelo diretor Eduardo Milewicz, sobra tino humorístico na atuação do sempre ótimo Ricardo Darín, o maior astro de seu país. Nessa época, Darín estava em franca ascensão após o sucesso do thriller Nove Rainhas. Dessa safra saíram também O Filho da Noiva, indicado ao Oscar de filme internacional, e o drama político Kamchatka. Todos esses estrearam nos cinemas brasileiros, mas Samy e Eu era inédito por aqui.

Darín está hilário como esse romântico desconjuntado e a linda colombiana Angie Cepeda (Heleno) exala um efervescente calor latino que faz lembrar a espanhola Penélope Cruz. É uma dupla improvável e o roteiro não se empenha em torná-la crível. Pequenas reviravoltas complicam o romance e a carreira de Samy na televisão, mas o humor domina do início ao fim. Quem rouba a cena do par central é a estrela uruguaia Henny Trayles, na pele da mãe irascível do protagonista, que consegue inclusive um espaço no reality.

Samy e Eu é uma bobagem divertida, que antecipou a consagração mundial de Darín com o premiadíssimo O Segredo dos Seus Olhos, de Juan José Campanella (O Filho da Noiva), vencedor do Oscar 2010 de filme internacional. Curiosidade: a irmã de Samy no filme é interpretada por Alejandra Darín, irmã do ator na vida real.

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