Pedro e Inês

“Inês é morta” diz a expressão que significa “não adianta mais”. Inês é Inês de Castro, pivô de uma das mais famosas histórias de amor de Portugal. No século 14, o infante D. Pedro I se apaixonou perdidamente por Inês, dama de companhia de sua esposa, Constança Manuel – o casamento fora arranjado pelo pai dele, o rei D. Afonso. O amor proibido terminou de forma trágica e ganhou desdobramentos bizarros. Seis anos após a morte da amada e já no trono, D. Pedro ordenou a exumação do corpo e realizou a cerimônia de coroação da rainha, com direito a cerimônia do beija-mão do cadáver.

O episódio é recriado em Pedro e Inês, mas a coprodução entre Portugal, Brasil e França propõe um olhar diferente sobre esse amor avassalador, que no filme rompe as barreiras do tempo, da vida e da morte. O diretor e roteirista António Ferreira adapta o romance de Rosa Lobato Faria, A Trança de Inês, e situa Pedro e Inês em três épocas diferentes, mas sempre com os mesmos protagonistas. A dupla central é formada pela brasileira Joana de Verona (Praça Paris) e Diogo Amaral (Medo Profundo).

O romance original, em meados de 1300, ganha uma meticulosa reconstituição de época e segue a narrativa histórica clássica. Na versão ambientada no presente, Pedro está em um instituto psiquiátrico de luxo, e por suas memórias descobrimos que ele e Inês são arquitetos e se conheceram no escritório comandado pelo pai dele, Afonso (João Lagarto, Mosquito). A relação entre pai e filho também é turbulenta, mas o confronto maior nesse segmento é com Constança (Vera Kolodzig), a esposa traída.

O terceiro encontro entre Pedro e Inês é em um futuro distópico. Ele vive com a família em uma comunidade autossuficiente em um ambiente rural. O casamento com Constança também é armado e com missão meramente reprodutiva. Inês é a forasteira que aparece ferida, recebe abrigo e arrebata o coração de Pedro à primeira vista. O enredo não esconde o tom novelesco e o elenco tem dificuldade em escapar do artificialismo. Mas essa é uma história real, incomum e tão marcante da cultura portuguesa que foi recontada por Camões em uma estrofe do épico poema Os Lusíadas.

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