Paloma

Tudo o que Paloma mais quer na vida é se casar na igreja, de véu e grinalda. Ela vive junto com Zé e juntos criam sua filha Jenifer, de 7 anos. Realizar o sonho seria simples se a aspirante a noiva não fosse uma mulher trans e o Vaticano não vetasse a benção de uniões homossexuais. Consagrado como melhor longa no Festival do Rio, Paloma também levou os troféus de melhor atriz, para Kika Sena, e o Prêmio Félix, concedido a obras com temáticas LGBTQIA+. Estreia dos cinemas, é um dos filmes mais delicados do pernambucano Marcelo Gomes, dos aclamados Cinema, Aspirinas e Urubus (2005) e Era Uma Vez Eu, Verônica (2012).

Em entrevista em vídeo ao portal OQVER (veja a seguir), o cineasta conta que a história nasceu há cerca de 10 anos, da leitura de uma matéria de jornal sobre uma mulher trans que provocou a ira de uma cidadezinha do agreste pernambucano com seu desejo de casar de branco. “Aquela notícia era emocionante e ao mesmo tempo trazia muitas contradições da sociedade brasileira, ao falar de amor, ódio, preconceito e fé, mas, acima de tudo, de afeto”. Na trama, a rotina de Paloma se resume ao trabalho em uma plantação de mamão e aos cuidados com a casa e a família.

Ao cotidiano o cineasta acrescenta sua luta para oficializar a relação em cerimônia religiosa, o que inclui um pedido de apoio ao pároco local e até uma carta ao Papa. Paloma responde às negativas com obstinação e esperança. Arte-educadora, diretora teatral, poeta e performer, a alagoana Kika Sena se tornou a primeira transexual a receber o Troféu Redentor de atuação no Festival do Rio. Embora não tenha ido bem nos três primeiros testes, ganhou o papel de protagonista por seu olhar. “Sabia que com esses dois olhinhos ela iria construir uma personagem frágil, forte, inocente, ingênua e, sem saber, revolucionária”, diz o cineasta.

“A maior inspiração para a Paloma foi minha mãe, minha maior referência de determinação para correr atrás daquilo que se quer”, afirma Kika, ao lado do diretor no papo com OQVER. “Marcelo me deu a maior liberdade para encontrar a minha própria Paloma a partir da Paloma dele, e eu também me vejo nessa pessoa que sai desbravando o mundo para realizar seus sonhos.” Há tensão nessa jornada, com perigos que espreitam por todos os cantos, mas o enredo não cai em lugares comuns. Paloma é um conto de fadas, sim, mas com os dois pés fincados na realidade.

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