Pacificado

Esqueça o rótulo “favela movie”. Pacificado precisa ser descoberto pelo grande público. Com Bukassa Kabengele gigante em cena, o drama dirigido pelo americano Paxton Winters foi rodado no Morro dos Prazeres, no Rio de Janeiro, e acompanha Jaca, um ex-chefão do tráfico que sai da prisão após 14 anos. Em um profundo estudo de personagem, a trama foca a relação dele com a adolescente Tati (a revelação Cássia Nascimento), que acredita ser sua filha.

O título parece vir dos morros “pacificados” durante os Jogos Olímpicos Rio 2016, período em que a trama é ambientada. Mas não. Pacificado é o espírito desse homem de olhar penetrante, ora de perigo, ora de ternura, cujo desejo de uma vida longe do crime tem pouca acolhida da comunidade, que o admira e demanda sua volta ao topo. Débora Nascimento faz a mãe drogada de Tati, José Loreto é o pupilo de Jaca que vê seu trono ameaçado pelo retorno do mestre, e a veterana Léa Garcia brilha como a senhora que personifica a alma daquele povo sofrido.

O cineasta viveu por oito anos no Morro dos Prazeres e contou com o cultuado Darren Aronofsky (diretor de Cisne Negro) como coprodutor. “Desenvolvemos a história a partir de casos reais que ouvimos dos moradores”, conta Winters em entrevista por vídeo ao OQVER (veja a seguir), realizada junto com elenco e produtores. Há pouco espaço para a violência, embora ela se faça presente principalmente nas cenas com Loreto. “Não falamos da violência extrema que tira vidas, mas de outras vidas que nos são tiradas em vida”, explica o protagonista Kabengele.

As relações humanas se sobressaem nesse drama familiar intimista, como descreve o ator em relato emocionado: “Uma adolescente cresce com o fantasma de um pai, esse pai cresce com o fantasma de uma filha, e o encontro é uma reconexão com o direito à felicidade”. Pacificado tem colecionado prêmios em festivais, entre eles a Concha de Oro em San Sebastián e o Prêmio do Público de Melhor Filme na 43ª Mostra SP. 

Ficha Técnica

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