Os Aeronautas

Depois do sensível e elogiado As Loucuras de Rose, que deu à irlandesa Jessie Buckley (Chernobyl) a indicação ao Bafta (o Oscar do cinema inglês), o diretor Tom Harper reúne a dupla do premiado A Teoria de Tudo: Eddie Redmayne (Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald) e Felicity Jones (Suprema). Desta vez, eles interpretam dois desbravadores dos céus, um cientista e uma aeronauta, a bordo de um balão na Londres vitoriana da década de 1860. Os atores, aliás, tiveram de voar no balão para as filmagens, acompanhados de um piloto, é claro, com direito a acidentes que não estavam no roteiro.

É realmente triste que, ao contrário de outros países, Os Aeronautas, produção original da Amazon, não tenha sido lançado no Brasil também nos cinemas, no formato Imax inclusive, para fazer jus ao seu esplendor visual. Mesmo assim, o vigor imagético capitaneado por Harper e George Steel, diretor de fotografia parceiro do cineasta desde a primeira temporada da cultuada série britânica Peaky Blinders, se mantém na telinha. Os nossos olhos vão devorando cada precioso detalhe, do design de produção com seu balão construído para o filme em escala e autonomia de voo reais, até os figurinos de época e os sofisticados efeitos especiais. Como aperitivo, que tal uma revoada de borboletas amarelas, por entre as cordas do imponente balão vermelho com o céu azul ao fundo, sobre os dois aventureiros já voando acima das nuvens?

O contido James Glaisher (Redmayne) e a corajosa Amelia Wren (Felicity) parecem não ter nada em comum. Mas o cientista, desacreditado em seus estudos sobre os eventos do clima, por seus sisudos pares acadêmicos e seu amado pai, precisa desesperadamente que a balonista lhe acompanhe num voo ousado e pioneiro. Ela tem igual necessidade de um estímulo para voltar a voar e vencer o trauma de uma perda inestimável. O roteiro é inspirado no livro do historiador e biógrafo inglês Richard Holmes, sobre o extraordinário voo de balão dos cientistas e astrônomos James Glaisher e Henry Coxwell, que os ajudou a dar o status de ciência à meteorologia. Amelia, por sua vez, é uma parceira ficcional, homenagem a pioneiras balonistas, como a francesa Sophie Blanchard - que no início dos anos 1800 foi a primeira aeronauta mulher a voar sozinha numa balão.

Os Aeronautas é daqueles filmes que faz lembrar por que amamos tanto o cinema. Enquanto o balão rasga nuvens e céu, somos apresentados aos protagonistas, suas razões, suas histórias pessoais, seus desafios e, sobretudo, sua solidão. Pendurados naquela minúscula cesta suspensa no ar, Glaisher e Amelia não se irmanam apenas na coragem, mas também na contemplação admirada da natureza, tão rara e tão bela, de seu privilegiado ponto de vista. Tom Harper fez desse deslumbrante e tenso drama de ação não só um sedutor manifesto ecológico como um elogio à ciência e aos cientistas genuínos, aqueles que não medem esforços para tornar o mundo um lugar melhor para se viver.

Ficha Técnica

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