O Protetor: Capítulo Final

São muitos os corpos espalhados pelo casarão de uma vinícola na Sicília. No subsolo, entre tonéis de carvalho, há um sujeito sentado sob a mira de três capangas armados. É Robert McCall. Ele levanta os olhos com calma e explica por que, em exatos 9 segundos, a situação vai virar. Quem assistiu aos dois capítulos anteriores de O Protetor, lançados em 2014 e 2018, talvez estranhe a ausência das estilosas cenas que exploram a visão periférica que permite que essa máquina de matar antecipe os movimentos do inimigo.

O close no rosto capta o olhar severo desse homem que entende de dor e de morte, e que faz um movimento sutil com os lábios antes de partir para o abate. Denzel Washington é anormal, fora de série, um gigante. O diretor Antoine Fuqua sempre soube disso e nesse Capítulo Final encerra a trilogia ainda mais ciente de que o astro de 69 anos é muito maior do que qualquer ousada tomada de câmera. Foi sob sua batuta que Washington ganhou o segundo de seus dois Oscars, por Dia de Treinamento (2001) – o primeiro foi de coadjuvante, por Tempo de Glória (1989).

O ex-agente da inteligência Robert McCall nasceu na telinha, interpretado por Edward Woodward na série oitentista O Justiceiro (Equalizer), criada por Richard Lindheim e Michael Sloan. Na despedida do personagem da telona, as razões que o levam ao sul da Itália são reveladas apenas no fim. A missão é abalada por um infortúnio que deixa McCall sob cuidados médicos em um vilarejo. A rotina é pacata, os habitantes são afáveis. Depois de uma vida de solidão e tormento, assombrada pelo passado, o matador acredita ter achado um lar, ou quase. Porque antes precisa resolver questões locais, diga-se: a máfia napolitana.

A velha história da bandidagem que aterroriza e cobra taxas aqui também não escapa do lugar comum. Embora inove com menos ação e uma falsa calmaria, o roteiro assinado pelo mesmo Richard Wenk das partes 1 e 2 é bem fraquinho. Os personagens que cercam McCall são formulaicos, unidimensionais e previsíveis. Nem o anunciado reencontro com Dakota Fanning, 20 anos depois de Chamas da Vingança, chega a entusiasmar. No filme de Tony Scott, Washington era o ex-agente da CIA que protegia a garotinha de 10 anos.

Agora, Dakota é a agente da CIA que investiga a massacre no vinhedo, e está atenta à presença do compatriota por ali. A relação de troca de informações entre eles não vai longe, apesar de uma pequena revelação. The Equalizer 3 (título original) é uma obra medíocre na trama, razoável na sintonia que diretor e protagonista alcançam na quinta colaboração (Sete Homens e um Destino também está na lista), e ótima na profunda compreensão que Washington tem da psicologia do personagem. Cada gesto, olhar ou respiro ganha significado.

Ficha Técnica

Assista Agora!