O Pacto

Quando não está no terreno da pancadaria urbana, em filmes como Snatch, Rock’n’Rolla e Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, o cineasta Guy Ritchie gosta de uma boa fantasia. Para Sherlock Holmes, Rei Arthur e Aladdin, criou universos fantásticos onde pôde realizar suas peripécias visuais, sempre banhadas pela energia pop e o irônico humor inglês que tornam seu cinema tão particular. É um Guy Ritchie diferente que se revela em O Pacto, produção original da Amazon já disponível na Prime Video, que marca a primeira parceria com o astro Jake Gyllenhaal.

Com os dois pés fincados na realidade e uma gravidade inédita no tom, o diretor explora os desdobramentos dos atentados de 11 de setembro de 2001 por um prisma inédito: a relação entre soldados norte-americanos enviados ao Afeganistão e habitantes locais empregados como intérpretes. O acordo pela colaboração incluía a solicitação de vistos especiais de imigração e a mudança para a América.

Personagem fictício, o sargento John Kinley (Gyllenhaal) está em ação em 2018, três anos antes da retirada definitiva das Forças Armadas dos EUA da região. Líder de uma unidade especializada em encontrar munição e explosivos do Talibã, ele aceita ressabiado o novo tradutor, Ahmed (Dar Salim), sujeito caladão, cara de poucos amigos. Não devem ter sido poucos os traíras infiltrados, mas essa é outra história. Escrito a seis mãos por Ritchie, Ivan Atkinson e Marn Davies, a mesma trinca de Magnatas do Crime, o roteiro conecta os protagonistas em uma enervante situação-limite.

As cenas de ação são tensas, porém convencionais. É a ameaça constante que deixa o espectador apreensivo do início ao fim. Um ataque inimigo lança Kinley e Ahmed em uma extenuante jornada de sobrevivência que implica duas etapas. Pode soar açucarado dizer que essa é uma inspiradora história sobre generosidade. Não é o caso. Há uma dívida entre eles e o diretor pega pesado nos trâmites físicos e psicológicos para que o pacto do título (The Covenant, no original) seja cumprido.

Guy Ritchie tem fama de tratar seus filmes como organismos vivos, com roteiros que mudam no calor do momento. É provável que tenha sentido e aproveitado ao máximo a potência de sua dupla central. Ele próprio comentou em entrevista sobre a consciência que Gyllenhaal tinha do peso da farda, vestida também em Soldado Anônimo, de Sam Mendes, ambientado na Guerra do Golfo. O laço que se cria entre Kinley e Ahmed não é de amizade. É de reciprocidade, de retribuição ao bem recebido – nesse caso, à custa de dose extrema de risco e coragem. 

Ficha Técnica

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