O Homem Que Matou Dom Quixote

Foram 30 anos de gestação. Só por nascer, O Homem Que Matou Dom Quixote já é vitorioso. Era 1989 quando Terry Gilliam (ex-membro do famoso grupo de humor Monty Python) teve a ideia de montar sua versão do clássico literário de Miguel de Cervantes. Quem assistiu a Os Irmãos Grimm, Medo e Delírio e Os 12 Macacos, por exemplo, sabe que o cinema de Gilliam é psicodélico, libertário, alucinante, surreal, exuberante e metalinguístico. A receita é novamente seguida à risca, desta vez com a história de um filme dentro do filme.

Nessas três décadas, produtores e atores entraram e saíram do projeto, que tinha Johnny Depp, Jean Rochefort e Vanessa Paradis como protagonistas do elenco original. O material produzido na primeira tentativa abortada, que entre as intempéries teve a inundação do set e destruição de equipamentos, rendeu inclusive um documentário, Perdido em La Mancha (2002), sobre as absurdas dificuldades enfrentadas por Gilliam.

Gérard Depardieu, Robert Duvall, Ewan McGregor e John Hurt também pretenderam estrelar a epopeia de Gilliam, mas abandonaram o barco por motivos diversos. Eis que em 2016, Adam Driver (o Kylo Ren de Star Wars), Jonathan Pryce (A Esposa) e Olga Kurylenko (Um Dia Perfeito) fecham a participação e a produção é retomada. Aleluia!

O Homem Que Matou Dom Quixote é um delírio brincalhão, que começa nas filmagens de uma campanha publicitária na Espanha. Toby (Adam Driver) é o diretor arrogante e sem inspiração, que recebe de um misterioso cigano uma antiga cópia de seu primeiro filme, um trabalho estudantil no qual adaptava (adivinhe!) a obra Dom Quixote.

Toby descobre que o vilarejo que serviu de cenário fica perto, e quando vai revisitar o lugar é confrontado com efeitos devastadores que seu filme provocou nos habitantes da comunidade. A adolescente que viveu Dulcineia (Joana Ribeiro) tornou-se prostituta e o sapateiro que interpretou Quixote (Jonathan Pryce) perdeu a razão e nunca mais abandonou seu personagem.

Em um registro pitoresco, a trama se alterna entre fantasia e realidade, na medida em que Toby se deixa envolver pelos devaneios de “Quixote”, que o considera seu Sancho Pança. Terry Gilliam leva mais de duas horas para contar essa jornada que não vai muito longe nem na dramaturgia, nem no enredo. Mas o espírito intrépido do cineasta está em cada cena. Como o valente e insano Quixote, o destemido e tresloucado Gilliam combateu demônios reais e imaginários, mas, enfim, realizou sua obra.

Ficha Técnica

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