O Homem Ideal

O que você acha de encomendar o homem dos seus sonhos? Ele vem customizado a partir de um questionário com zilhões de perguntas de como seria seu parceiro ideal. Com um pequeno detalhe: o par perfeito é um robô. Atração do Prime Video, O Homem Ideal rendeu a Maren Eggert o Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Berlim 2021. Ela é Alma, a solitária arqueóloga que aceita participar de um experimento em troca de fundos para sua pesquisa sobre escritas cuneiformes. Sua tarefa é testar por três semanas o atraente humanoide Tom, interpretado pelo inglês Dan Stevens, que é fluente em alemão.

Antiguidade e modernidade emolduram O Homem Ideal. Alma vive presa no passado não só por trabalhar no suntuoso Museu Pergamon, em Berlim, mas por se ver incapaz de seguir adiante depois de uma perda que se revela no decorrer da trama. Ela se irrita com as tentativas de Tom de agradá-la, porque criou um escudo emocional. A questão é se o androide será capaz de removê-lo. Quem registra a inusitada convivência é a diretora e roteirista Maria Schrader, conhecida pela premiada minissérie Nada Ortodoxa, da Netflix.

As relações líquidas ganham um provocador contraponto nesse vínculo moldado tecnologicamente para ser perene. Alimentado com os dados mentais de 17 milhões de pessoas, o sistema de Tom é capaz de captar e reagir às emoções, mas não de senti-las. Ele sabe dar prazer, mas não receber. Não há egoísmo, só doação. De bobalhão, no entanto, não tem nada. Inteligente e sagaz, Tom posa de namorado quando o ex-marido de Alma anuncia que vai se casar novamente. Haveria futuro para uma relação que, no fim das contas, é unilateral?

Embora desvie dos clichês hollywoodianos, Um Homem Ideal não se aprofunda nos temas colocados à mesa – a solidão à frente de todos. O que a cineasta faz é criar situações que pedem reflexão. Entre elas, os cuidados de Alma com o pai idoso, a felicidade estampada no rosto do sujeito que lhe apresenta a companheira robô, e o veredito para o projeto: “Se tivermos parceiros humanoides, vamos criar uma sociedade viciada, acostumada e cansada de ter as necessidades sempre supridas, e afastada da promoção de autoconhecimento”.

Como o ser humano é complexo e fascinante, as palavras assertivas da protagonista em seu relatório científico não condizem com seus desejos mais íntimos e, consequentemente, com seus atos na etapa final. Alma diz que melhor seria não ter conhecido Tom. O problema é que, agora, “uma vida sem ele é uma vida sem ele”. Um Homem Ideal é muito bonito e representou a Alemanha no Oscar 2022 de Melhor Filme Internacional.

Ficha Técnica

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