Noite Mágica

O diretor italiano Paolo Virzì tem uma maneira peculiar de analisar “o estado das coisas”. Com A Primeira Coisa Bela (2010), ele debitou no complexo de édipo o desânimo crônico de seu protagonista, com uma trama em flashbacks que o mostra como filho de uma mulher exuberante e fogosa. Já em Loucas de Alegria (2016), a realidade ganhava lucidez pelo olhar de duas mulheres literalmente insanas. E em seu primeiro filme em língua inglesa, Ella e John, a morte e o esquecimento tinham em Ellen Mirren e Donald Sutherland dois pilares de afeto e bom humor. Tudo isso para chegar em Noite Mágica, e o “estado das coisas” nos bastidores do cinema italiano da década de 90.

Quem é familiarizado com atores, diretores, produtores e roteiristas daquela época terá um sabor a mais nessa jornada que começa com uma morte suspeita, bem na noite da semifinal da Copa da Itália, em que a seleção argentina eliminou os italianos em casa. O foco no jogo é tamanho que ninguém percebe a queda de um carro no Rio Tibre. O corpo no veículo é do produtor Leandro Saponaro (Giancarlo Giannini), e a polícia chama para depor os três jovens que teriam sido os últimos a estar com o empresário.

Através do interrogatório da trinca, Noite Mágica entra no modo flashback e revela que o nerd Antonio Scordia (Mauro Lamantia), o libidinoso Luciano Ambrogi (Giovanni Toscano) e a deprimida Eugenia Malaspina (Irene Vetere) estão reunidos em Roma por serem os finalistas de um prêmio de roteiro. O sonho de fazer parte da indústria do cinema rende um passeio por um universo em que Federico Fellini rodava seu último filme, e o “mestre de incomunicabilidade” Michelangelo Antonioni não queria papo com ninguém.

Virzì trabalha no registro cômico, mas a melancolia se intromete na forma como desmistifica a rotina criativa na Cinecittà. Sempre tão cuidadoso com seus personagens, desta vez o cineasta dedica-se mais à ambientação, ao desfile de celebridades, à situações inusitadas entre a nata da cinematografia italiana. Seu trio central, então, fica preso na caricatura e o espectador assiste sem empatia à pequena aventura dos aspirantes a roteiristas.

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