No Portal da Eternidade

O norte-americano Julian Schnabel já era artista e pintor de sucesso antes de estrear como cineasta com o elogiado Basquiat – Traços de uma Vida. Foi ele que conduziu Javier Bardem à sua primeira indicação ao Oscar com Antes do Anoitecer, no papel do poeta e escritor cubano Reinaldo Arenas, e ainda disputou a estatueta pela direção de O Escafandro e a Borboleta. Portanto, era de se esperar algo, no mínimo, vigoroso de sua visão cinematográfica de Vincent Van Gogh (1853-1890). 

Schnabel mirou alto quando trouxe para o projeto o roteirista dos roteiristas, o francês Jean-Claude Carrière - merecedor de um Oscar honorário, em 2015, pelo conjunto da obra -, e Willem Dafoe (Projeto Flórida) como protagonista. A performance foi laureada com a Copa Volpi no Festival de Veneza, além de indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro. Dafoe inclusive teve aulas com o cineasta para aprender a pintar. O elenco tem ainda Oscar Isaac (Star Wars: Os Últimos Jedi) no papel do pintor francês Paul Gauguin e participações especiais de luxo.

No Portal da Eternidade retrata os últimos meses de vida de Van Gogh, quando ele se mudou para o sul da França, em Arles e Auvers-sur-Oise – onde aconteceram as filmagens. Há fatos importantes da vida do pintor retratados, há outros ficcionais. Mas o roteiro, contundente, e a encenação de Schnabel, virtuosa, transformam as imagens ora em pensamentos, ora em quadros, delírio e arte, silêncio e luz, cinema por excelência.

Há requintes de quadros famosos sendo pintados para a câmera, há reconstrução de lugares, closes de personagens e panorâmicas de paisagens que povoam a obra de Van Gogh nos enquadramentos e ângulos inusitados das lentes do diretor. Mas o que subjaz a esse conjunto de estética e realização ímpares, é a solidão e o sofrimento de um gênio incompreendido, entregue à beleza em estado puro que seus olhos viam e pintavam, mas a vida lhe negou. 

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