Na Mira do Júri

Provocar boas risadas, daquelas de doer a barriga, está quase impossível diante das escabrosas notícias nas manchetes dos jornais. Mas a façanha é realizada com louvor pela série Na Mira do Júri (Jury Duty), disponível no Prime Video. Rapaz comum, perto dos 30 anos, o norte-americano Ronald Gladden estava entre empregos quando se candidatou para participar da seleção do júri de um julgamento que seria filmado para uma série documental. Ele não sabia de um detalhe: todos ao seu redor, dos outros jurados aos advogados, do juiz aos oficiais de justiça, eram atores profissionais. O próprio caso, um estapafúrdio processo trabalhista, era pura ficção.

Criada por Lee Eisenberg e Gene Stupnitsky, roteiristas de Bons Meninos, Na Mira do Júri está indicada a quatro Primetime Emmys (a premiação é em janeiro), entre os quais melhor série de comédia e ator coadjuvante para James Marsden. Embora Ronald seja o incauto protagonista, a maior atração é o astro da franquia X-Men e do musical Encantada (2007), que encarna uma hilária versão celebridade egocêntrica de si mesmo. Na verdade, cada personagem tem uma peculiaridade capaz de arrancar riso em esforço.

São oito episódios de 30 minutos, na medida para maratonar. A sessão inicial, em que o juiz seleciona os convocados para montar o corpo de jurados é uma amostra do humor que brota de comentários e olhares. Os subterfúgios de alguns para conseguir a dispensa é um show de comédia. Discretamente, a câmera acompanha Ronald, que em situações ímpares chega a dizer que tudo é tão absurdo que parece um reality show. Mal sabe... Claro que ele é eleito presidente do júri e a posição lhe traz novas responsabilidades.

Alguns eventos “forçam” o juiz a decretar o isolamento da trupe, que fica hospedada no mesmo hotel. Dali saem apenas para o tribunal, para um restaurante ou para alguma atividade em campo ligada ao caso, como a visita à fábrica Canela e Pardal (olha o nome!), onde ocorreu a pendenga que envolveu patroa e funcionário. A equipe do falso documentário reúne o grupo quase que diariamente para ouvir suas impressões, com a câmera sempre atenta às reações de Ronald.

Durante três semanas eles convivem, criam laços e se preparam para dar o veredito, que precisa ser unânime. Não vale aqui revelar pormenores das inúmeras circunstâncias cômicas, a grande maioria criada no improviso. Há duas especialmente engraçadas: Ronald ajudando Marsden a ensaiar o texto de um novo filme, e Ronald servindo de cupido entre dois jovens jurados. A verdade é revelada no último episódio, que mostra os bastidores do time que conduziu a peripécia.

Na Mira do Júri é comédia de alto nível que cativa além do humor, porque do faz de conta emerge um personagem real que banha a brincadeira de humanidade. Em toda a sua ingenuidade, Ronald revela-se um sujeito exemplar no trato com o outro, na empatia, na educação com que contorna dificuldades, na disponibilidade e no senso de justiça. É impagável sua surpresa quando o juiz abre o jogo, e é emocionante o “veredito” que ele recebe para seu comportamento durante o falso julgamento. 

Ficha Técnica

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