Mussum, Um Filme do Cacildis

Antônio Carlos Bernardes Gomes já era Carlinhos da Mangueira e Carlinhos do Reco-reco antes de o ator Grande Otelo o chamar de Mussum pela primeira vez, na abertura de um programa de TV nos anos 1960. Mussum já era sambista querido da Mangueira e do popular e internacional conjunto Os Originais do Samba antes de se tornar humorista e astro da televisão e do cinema como “a cereja do bolo” do quarteto de humor Os Trapalhões. Carlinhos era filho de Dona Malvina, morador do Buraco Quente, favela do Rio de Janeiro, antes de ser pai de cinco filhos de cinco mulheres diferentes.

No último dia 7 de abril, Mussum faria 78 anos, se o coração não o tivesse levado precocemente em 1994, há 25 anos, aos 53 anos de idade. Não há melhor maneira de celebrar a vida desse genuíno ícone da cultura popular brasileira do que assistir a Mussum, Um Filme do Cacildis. A pesquisa e o roteiro de Bruno Passeri e Michel Carvalho pelos entremeios dos fatos da vida de Carlinhos/Mussum muniram a diretora Susanna Lira de rico material, que ela encenou com criatividade e uma narrativa diferenciada, irmã gêmea do curta Ilha das Flores, de Jorge Furtado. A consultoria do roteiro e narração de Lázaro Ramos é o laço afetuoso de fita colorida que conduz e adorna esse deleite de filme.

Há registros preciosos da carreira musical de Mussum com Os Originais do Samba, depoimentos de Jair Rodrigues e Elis Regina, que acompanhada do conjunto e de Baden Powell, ganhou a Bienal do Samba em 1968 com “Lapinha”. Há outros sambas clássicos do conjunto, como “Do Lado Direito da Rua Direita” e “Tragédia no Fundo do Mar”.  Há, claro, muitos registros da longeva parceria com Os Trapalhões, e achados como a “invenção” e introdução do banjo no samba, atribuída a Almir Guineto.  Há a trilha sonora original inspirada e malemolente de Pretinho da Serrinha, e ótimos depoimentos de parceiros, amigos, e com destaque, dos filhos saudosos. 

O filme é uma cuidadosa e carinhosa cinebiografia documental com comentários às vezes incisivos de temas delicados como o racismo do brasileiro e do humor brasileiro. Quando ouvimos Mussum cantar os versos “Quando a saudade chegar/ Não estarei mais aqui/ Vou me pirulitar”, da canção de Jorge Ben, “Vou me Pirulitar”, é impossível não sorrir e não se comover com a memória e o legado desse grande artista e brasileiro, de seus plurais irregulares e brincalhões, da sua capacidade única de conjugar os verbos morrer e pirulitar na mesma sentença, com humor e um certo amargor.  

Ficha Técnica

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