Minha Obra-Prima

O pintor decadente Renzo Nervi (Luis Brandoni), que teve sucesso nos anos 1980, não vende quadros há anos. A última exposição foi um fracasso de crítica e público, graças também à sua personalidade ranzinza, sarcástica e agudamente crítica, apesar do esforço comercial do marchand Arturo Silva (Guillermo Francella), único amigo, de longa data, do artista. É Arturo quem se dirige ao espectador e o convida a conhecer os segredos que rondam essa história. O primeiro, ele revela de cara: “sou um assassino”.

O diretor Gastón Duprat sabe do que fala quando trata do mundo das letras e das artes. Em El Artista (2008), sua protagonista era uma enfermeira que roubava os desenhos dos pacientes para vendê-los. O premiado O Cidadão Ilustre (2016) narra a volta de um escritor, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, para sua cidade natal no interior da Argentina. Os três filmes têm roteiro do irmão de Gastón, Andrés Duprat, diretor do Museu Nacional de Bellas Artes.

Minha Obra-Prima faz um retrato ácido do mercado das artes plásticas, tão bem engendrado que poderia ser estendido à indústria da cultura em geral. O filme investe principalmente no talento de seus protagonistas, Brandoni (A Sorte em Suas Mãos) e Francella (O Clã), e na amizade dos personagens fanfarrões para acertar no tom cômico e amenizar a crítica mordaz a um certo cinismo e elitismo de quem expõe, negocia e critica a arte.

Duprat calibra as lentes da sua câmera para filmar as obras de arte e apura a narrativa para seduzir o público com sua história farsesca, mas também de um certo mistério, pista após pista. Os diálogos entre os velhos amigos e as suas diferenças por ocuparem os dois extremos do negócio da arte – o artista e o negociador – são saborosos. Embora o filme talvez cometa o mesmo equívoco que ironiza, e seja dirigido para um público mais afinado com as artes plásticas, é um deleite.

Ficha Técnica

Assista Agora!