Meu Extraordinário Verão com Tess

Com seus 10 anos, Sam (Sonny Coops Van Utteren) passaria tranquilamente por uma criança comum, não fosse sua precoce preocupação existencial com a morte. Na primeira cena de Meu Extraordinário Verão com Tess, ele está deitado numa cova cavada na areia da praia no início das esperadas férias do verão holandês. Alheio à agitação em volta, confabula sobre a dedução inequívoca de que, por ser o caçula da família, vai sobreviver aos pais e ao irmão mais velho, como o último dinossauro viu seus “parentes” morrerem antes dele – e deve ter ficado muito triste.  

Mas não há morbidez na constatação de Sam, antes um desassossego genuinamente infantil para o qual ele decide se preparar com um rigoroso treinamento para a solidão. Como o irmão cai no “túmulo” durante uma peladinha familiar na areia e quebra a perna, e sua mãe está com enxaqueca, Sam passa horas sozinho numa praia isolada. Tudo muda quando conhece Tess (Josephine Arendsen). Ela é apenas um ano mais velha, mas muito mais descolada. Filha de mãe solteira feminista, Tess arquiteta um plano mirabolante para conhecer o pai, ou pelo menos quem pensa ser seu pai.

Arrebatado pelo furacão que é Tess, Sam prejudica seu treinamento enquanto vai descobrindo as verdadeiras intenções dela com o casal de turistas hospedados na casa de praia da sua mãe. Há frescor no modo de vida simples da pequena cidade incrustrada na belíssima ilha de Terschelling, e na naturalidade blasé com a qual essa trupe de holandeses encara os dramas infantis de Sam e Tess, o ritual de passagem e o primeiro amor, que os intérpretes mirins vestem de encantamento.

Quando Sam é salvo de se afogar no mar por um eremita filósofo, que o faz repensar sua estratégia para lidar com a finitude da vida, é impossível evitar o sorriso que nos chega aos lábios e conforta qualquer situação de distanciamento social. A adaptação do livro homônimo da holandesa Anna Woltz marca a promissora estreia do diretor holandês Steven Wouterlood. Ele pode ter sido visionário mesmo sem querer, porque a salsa e o merengue da trilha sonora, com seu remelexo irresistível, dão a medida da contagiante esperança desse singelo e extraordinário conto infantil indicado para todas as idades.

Ficha Técnica

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