Legalidade

É de cortar o coração a ausência de Leonardo Machado no lançamento de Legalidade. O ator gaúcho, de filmes como Teu Mundo Não Cabe Nos Meus Olhos e A Cabeça de Gumercindo Saraiva, morreu aos 42 anos em 2018, de câncer. Na entrevista no vídeo abaixo, o diretor e corroteirista Zeca Brito (Glauco do Brasil) conta que ele chegou caracterizado como Brizola para o teste e avisou que o papel do político era dele. E assim foi. Tomou para si a missão de personificar o homem que, pela voz, levantou uma nação por respeito à Constituição. Machado é parte fundamental do resgate da Campanha da Legalidade, um movimento histórico praticamente ignorado pelos brasileiros.

Em 1961, o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, usou as ondas do rádio para fazer discursos inflamados e mobilizar a população a ir às ruas para exigir o cumprimento da lei que garantia a posse do vice-presidente João Goulart, depois da renúncia de Jânio Quadros. Hoje, isso significa que Brizola barrou o golpe militar pelo menos temporariamente, até 1964. Para tornar atraente ao grande público esse episódio pouco conhecido, Brito mescla realidade e ficção.

Reúne Fernando Alves Pinto (Para Minha Amada Morta), Cleo (Pires, que abriu mão do sobrenome) e José Henrique Ligabue (em seu primeiro longa) como os vértices de um triângulo amoroso em uma trama de romance e espionagem nos bastidores do Palácio Piratini, a sede do governo. Em um segundo núcleo ficcional, o cineasta ainda salta ao futuro, para 2004, quando a personagem de Letícia Sabatella (Happy Hour – Verdades e Consequências) investiga o desaparecimento da mãe (a personagem de Cleo) durante a ditadura.

A reconstituição de época é um esmero e Brito aumenta o impacto ao alternar as cenas de Machado na pele de Brizola com imagens reais. Nem tudo flui com naturalidade nessa costura dramática, principalmente por conta de diálogos exageradamente didáticos e empolados. Seu valor histórico, porém, é enorme. Legalidade, assim como o recente sucesso Bacurau, é um libelo a favor da resistência, da luta pela democracia, pela soberania nacional. A metáfora com o atual cenário político não pode ser mais clara.

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