Jornada da Vida

Famoso – e premiado – por Intocáveis (2011), que ganhou refilmagem argentina (Inseparáveis) a americana (Amigos Para Sempre), Omar Sy realiza seu trabalho mais pessoal em Jornada da Vida. Nascido na França, filho de pai senegalês e mãe mauritana, o ator acumula a função de produtor desse delicado road movie ambientado no continente africano.  

Menos é (muito) mais nessa fábula sobre amizade e reencontro com as raízes, que tem na simplicidade e na despretensão um antídoto contra a pieguice. Seydou Tall, o protagonista, é um famoso ator francês, que pretende aproveitar o tour de promoção de seu livro em Dakar, para passar mais tempo com o filho pequeno e lhe apresentar a terra de seus ancestrais. A ex-mulher, porém, proíbe o garoto de acompanhar o pai.  

Quem não vê a hora de Seydou chegar é Yao, o adolescente que sai sem aviso de sua aldeia ao norte de Senegal e percorre sozinho quase 400 quilômetros até a capital Dakar. Tudo isso para pedir um autógrafo de seu ídolo no exemplar do livro, lido tantas vezes que está memorizado.  Aqui vale um parênteses: o ator mirim Lionel Basse é fora de série. Raro ver alguém dessa idade fazer brotar dignidade e determinação do olhar.

Pois a ousadia deixa o astro comovido a tal ponto que Seydou decide levar Yao de volta para casa. Dizer que a jornada será transformadora para ambos pode parecer óbvio, mas o cineasta e corroteirista Philippe Godeau vai além da trama edificante e adocicada. Transforma a paisagem do Senegal na personagem que ora abraça com a sombra de árvores esculturais, ora repudia os viajantes com poeira e calor escaldante. Yao está em seu habitat natural, mas tanto Seydou quanto o espectador são obrigados a abandonar o imediatismo ocidental, sentir o tempo passar e se abrir às pessoas, à cultura e ao misticismo que pulsa naquele fascinante canto do mundo.

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