Irmãos à Italiana

Depois de se destacar na 8 1/2 Festa do Cinema Italiano e passar pelos cinemas, Irmãos à Italiana acaba de estrear no streaming. O diretor Claudio Noce exorciza o próprio trauma de infância através da história de Valerio (Mattia Garaci), garoto de seus 10 anos que surge animado com a chegada do verão a Roma de 1976. Esse menino doce, com cara de príncipe, tem uma irmã menor, porém passa mais tempo com um amigo invisível, a quem leva comida e joga futebol de botão. A mãe Gina (Barbara Ronchi) é amorosa, mas é pelo pai, o juiz Alfonso Le Rose (Pierfrancesco Favino), que ele tem adoração. Um dia Valerio acorda assustado com o barulho de tiros, e testemunha o atentado terrorista dos Núcleos Armados Proletários que quase mata seu pai.

Irmãos à Italiana remonta a uma década marcada pela violência política na terra da Cosa Nostra. É pelos olhos de Valerio que vemos os estragos físicos e psicológicos provocados pela consciência da morte e o medo da perda. O sofrimento é aplacado por uma nova amizade. O carismático Christian (Francesco Gheghi), que é um pouquinho mais velho, entra na vida de Valerio com seu espírito aventureiro.

Por um tempo, não fica claro se ele é real ou um novo amigo invisível. As coisas se tornam mais nítidas quando a família decide sair de cena e passar o verão na casa dos pais de Alfonso na Calábria, no sudoeste italiano. O cineasta trabalha bem cenas caseiras, como o momento de descontração em que Valerio observa os pais dançando. Mas a ameaça está no ar. As notícias de Roma não são boas e a presença surpresa de Christian na Calábria é um ponto de tensão – embora mais para o espectador do que para o clã Le Rose.  

Curioso como se completam o Padrenostro do título original e o Irmãos à Italiana do brasileiro. Pierfrancesco Favino conquistou a Copa Volpi de Melhor Ator no Festival de Veneza 2020 por esse padrenostro másculo que Valerio tanto admira, mas que revela toda sua fragilidade quando experimenta ele mesmo o medo da perda ao ver o filho em perigo. E o que dizer de Christian, também afetado pelo atentado, deixar brotar o sentimento fraternal por Valerio, que encontra no estranho um irmão mais velho. Claudio Noce não traça um retrato histórico da Itália dos anos 1970. Faz, isso sim, um enternecedor painel das relações humanas em situações extremas. O prólogo e o epílogo são especialmente poéticos.

Ficha Técnica

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