Hebe - A Estrela do Brasil

Das recentes cinebiografias de personalidades nacionais, entre elas Simonal, Minha Fama de Mau e 10 Segundos Para Vencer, a história de Hebe Camargo é a que vai mais longe no foro íntimo da personagem, sem medo de revelar seu lado B. Se o protagonista de Bingo: O Rei das Manhãs escondia a face obscura sob a máscara de palhaço, a apresentadora Hebe olhava direto para a câmera de cara limpa, sorriso no rosto e falava sem papas na língua.

O que a gente descobre nessa ficção inspirada em extensa pesquisa da roteirista Carolina Kotscho (Não Pare na Pista: A Melhor História de Paulo Coelho e 2 Filhos de Francisco) é que a bem-sucedida estrela da TV, símbolo da emancipação feminina, passava maus bocados em casa com o marido violento (Marco Ricca, esplêndido), bebia mais do que devia, não dava conta de equilibrar trabalho e filho (Caio Horowicz), e tinha no sobrinho (Danton Mello) seu braço direito. Carolina teve acesso a tanto material que o projeto vai se estender para uma minissérie e um documentário sobre a apresentadora. 

Hebe ganha humanidade nesse enredo focado e bem escrito, que acerta ao fazer um recorte de um período marcante de sua vida e do País: a década de 80. Hebe migrou da Bandeirantes para o SBT durante a transição da ditadura para a democracia, um momento turbulento em que viu seus ideais de liberdade e diversidade - além do franco apoio às minorias - entrarem em confronto com um governo preso aos ditames da censura dos anos de chumbo. 

Essa história conversa muito com o Brasil contemporâneo e deve grande parte de seu êxito à Andrea Beltrão. Dirigida pelo cineasta e marido Maurício Farias (Vai que Dá Certo 1 e 2), a atriz escapa do mimetismo e incorpora o espírito transgressor da personagem. É uma atuação precisa, tocante, digna de prêmios. No Festival de Gramado 2019, só não ganhou o Kikito de melhor atriz porque havia a pequenina Pacarrete de Marcélia Cartaxo no caminho, mas essa já é outra história.

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