Gabriel e a Montanha

Em 2009, o carioca Gabriel Buchmann foi encontrado morto. Estava na reta final do tour de um ano pela África e morreu de hipotermia após decidir subir o Monte Mulanje, pico mais alto do Malawi com mais de 3 mil metros de altitude, sem a companhia de um guia. Sua história lembra a do americano Christopher McCandless, retratado em Na Natureza Selvagem (2007), de Sean Penn. Ambos desejavam se fundir com a natureza e morreram nesse encontro. O cineasta Fellipe Barbosa (Domingo) era amigo de infância de Gabriel e refaz o trajeto dos últimos 70 dias da viagem em Gabriel e a Montanha, premiado na categoria diretor revelação em Cannes 2017.

Formado em Economia e prestes a começar um curso de políticas públicas na UCLA, em Los Angeles, o jovem de 28 anos passou por países como Quênia e Tanzânia. Também se aventurou na subida de montanhas difíceis, como o Kilimanjaro, antes da fatídica façanha. Seu corpo foi encontrado 19 dias depois. Diferente de McCandless, que fugia da civilização, Gabriel se conectou com os locais e muitos interpretam a si mesmos. João Pedro Zappa (Rasga Coração) parece “habitado” por Gabriel, tamanha a sua naturalidade.

A ideia de realizar o filme surgiu na época em que Gabriel ainda estava desaparecido e Barbosa tinha esperança de ouvir do amigo detalhes de sua epopeia. Durante o período de buscas, o diretor manteve contato com familiares e leu muitos dos e-mails enviados por Gabriel – alguns deles estão reproduzidos no filme. Antes de a causa da morte ser anunciada, temeu-se que tivesse sido assassinado. O cineasta então viu a chance não só de aproximar esses pontos geográficos tão distantes como também de fazer uma cartografia humana daquela parte do mundo.

Além dos e-mails, Barbosa teve acesso às fotos da câmera encontrada com o corpo. Pois a câmera usada pelo protagonista, assim como várias roupas, inclusive a túnica massai, são as verdadeiras. A trama tem ritmo de aventura e uma pitada de romance, pois a namorada (Caroline Abras, série O Mecanismo) vai visitá-lo. O motivo de ter liberado o guia e continuado sozinho a subida do Monte Mulanje é um mistério, mas o diretor disse na época acreditar em excesso de confiança.

A fotografia de Gabriel e a Montanha é de ajoelhar de linda e uma aura mística envolve todo o projeto. "Ao refazer o caminho, tentamos iluminar os passos do Gabriel no sentido de mostrar para o espírito dele o que aconteceu. A gente tinha um pouco de medo de que talvez ele não tivesse se dado conta da morte, porque ele foi dormir e morreu de hipotermia, achando que iria acordar no dia seguinte", falou Barbosa. Gabriel ganhou uma homenagem emocionante, e o público um filme muito especial.   

Ficha Técnica

Assista Agora!