Francofonia: Louvre Sob Ocupação

É preciso apreciar os exercícios estéticos e as ousadias linguísticas que marcam o cinema do russo Alexander Sokurov (Arca Russa) para se deixar encantar por Francofonia – Louvre Sob Ocupação. Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza 2015, esse misto de documentário e ficção é uma declaração de amor à arte e uma reflexão sobre seu papel histórico. No verão de 1940, Paris foi invadida pelas tropas nazistas. Impressionantes imagens reais mostram os novos “proprietários” inspecionando a capital francesa, e Hitler admirando a Torre Eiffel. Sokurov passeia com sua câmera pelos telhados parisienses, capta todo o esplendor arquitetônico da Cidade Luz até chegar ao templo máximo da cultura e da arte: o monumental Museu do Louvre.

Ali ele usa a ficção para resgatar dois personagens ímpares da Segunda Guerra: Jacques Jaujard (Louis-Do de Lencquesaing), diretor do museu, e o Conde Franz Wolff-Metternich (Benjamin Utzerath), general do alto escalão nazista nomeado codiretor por Hitler. Ciente do avanço alemão desde a invasão da Áustria, em 1938, o governo francês transferiu as obras de arte para castelos do Vale do Loire, distante das linhas de trem e de possíveis alvos de bombas. Os alemães se depararam com um Louvre desabitado, nada mais que poucas esculturas e peças de menor valor.

No presente, o diretor admira o fenomenal acervo do museu. Fascinado por pinturas de retratos, ele filma as faces daqueles que viveram no passado e tenta adivinhar o que dizem seus olhos. Por ali surge o fantasma do imperador Napoleão Bonaparte (Vincent Nemeth), que se vangloria dos objetos gigantescos arrancados de seus conquistados, como as preciosidades que compõe grande parte da ala do Egito. O poder e a arte. É sobre essa relação que Sokurov reflete em Francofonia. Às vezes em devaneios que exigem paciência do espectador, mas seus comentários nunca são menos que pertinentes.

A narrativa se alinhava entre as duas linhas temporais, e revela como Jaujard e Metternich passaram de inimigos a colaboradores, em uma aliança que sustentou as ações de preservação dos tesouros do museu. Embora soubesse a localização das principais obras, Metternich fez o possível para evitar saques. Em um desfecho inspiradíssimo, Sokurov rompe a barreira do tempo e do espaço e se comunica diretamente com a dupla no Louvre. Ali revela o futuro de cada um deles a partir do término da guerra. Os dois não levam a sério, mas cenas de arquivo corroboram o relato do cineasta. Fantástico.

Ficha Técnica

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