Fourteen

Dan Sallitt é um dos raros casos de críticos de cinema que transitam para a direção com estilo marcante, sucesso e aplausos de seus pares do antigo ofício. Sete anos separam o elogiado O Ato Indizível (2012) de Fourteen, que têm em comum não apenas a estética minimalista e contemplativa como a atriz alasquiana Tallie Medel, cujo talento ilumina esse drama sobre a longeva amizade de duas mulheres com personalidades e desejos completamente distintos.

É pelos olhos da professora e aspirante a escritora Mara (Tallie) que o filme acompanha mais de uma década das crises da intempestiva e problemática Jo (Norma Kuhling, de Fallen), que vive pulando de trabalho em trabalho como assistente social. O tema não é original, algo entre Já Estou com Saudades e Antes de Partir, com protagonistas mais jovens e problemas talvez menos sérios. A não ser pelo fato de que Jo tem um desequilíbrio emocional constantemente medicado, ainda não exatamente diagnosticado, e agravado pelo uso de drogas.  

Sallitt realizou uma produção independente autoral, assinou a direção, o roteiro e a edição, trouxe amigos para papéis coadjuvantes. Deixou Tallie e Norma brilharem na ótima composição de suas personagens, conduzidas por diálogos diretos e ajudadas por uma câmera que frequentemente as deixa fora do foco, fixa nos ambientes por onde elas se movimentam e conversam. O diretor busca esse efeito incômodo, que inicialmente obriga o espectador a “adivinhar” o que está fora da câmera, num misto de curiosidade e perplexidade.

Aos poucos, e principalmente após um longo plano em que a câmera registra a movimentação de uma estação pela qual Mara chega para fazer uma visita a Jo, é como se o alfabeto imagético peculiar de Sallitt começasse a ser decifrado. As casas, os locais, os amantes e a bela Nova York tornam-se testemunha e âncora dos encontros e do distanciamento de Mara e Jo. Com simplicidade e discrição, Sallitt captou com suas imagens a essência da passagem do tempo na qual se dá a vida.

Ficha Técnica

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