Disforia

Dário (Rafael Sieg, Alaska) é um psicólogo que está voltando aos poucos a trabalhar depois de um período afastado por questões pessoais. Sua esposa continua internada numa clínica, sem falar uma palavra, desconectada da realidade. Mas a amiga e colega Tânia (Janaína Kremer Motta,Tinta Bruta) insiste que ele assuma mais pacientes, inclusive Sofia (Isabella Lima), garota de 9 anos com histórico de estranhos surtos, que estuda em casa, na companhia apenas das professoras, da avó e de seu misterioso pai, Paolo (Vinícius Ferreira, Marés).

O diretor, produtor e roteirista Lucas Cassales escolheu o horror psicológico como gênero para sua estreia no longa-metragem, com Disforia, vencedor do prêmio de melhor direção no Rio Fantastik Festival 2019. No dicionário, disforia tem como definição a instabilidade do humor, acompanhada de mal-estar, inquietude e frequentemente reações coléricas. Cassales seguiu à risca a descrição do verbete para narrar a jornada de Dário, mas acrescentou algo de sobrenatural à narrativa.

Na primeira metade, o exercício estilístico de construção de climas e ambientações acontece naturalmente. A apresentação dos personagens e da trama é sedutora, enigmática, envolta em uma textura narrativa entre o onírico e o assombroso, minuciosamente elaborada na articulação dos enquadramentos, do cenário, da iluminação, da trilha sonora e da atuação do elenco, combinados num ritmo vagaroso.

Há um mistério circundando Paolo e Sofia, que reverbera em Dário de uma maneira sensorial e trágica (com direito a visões de banheira cheia de sangue), revelando a fragilidade da sua condição psíquica, cuja causa permanece desconhecida. Essas inconsistências no roteiro são premeditadas pelo diretor, para criar a sugestão tão cara ao gênero, mas acaba por comprometer o ritmo e o efeito da revelação final. 

Ficha Técnica

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