Depois do Casamento

É sempre interessante assistir a refilmagens, sejam elas de produções do passado ou de outros países ou continentes. Para além da inevitável comparação cinematográfica, é instigante observar abordagens distintas sobre o mesmo tema, seja no tempo, no espaço ou na narrativa. É justamente o que acontece com o remake de Depois do Casamento (indisponível em streaming nacional), da premiada cineasta dinamarquesa – uma das minhas favoritas – Susanne Bier (Bird Box, O Gerente da Noite, Coisas que Perdemos pelo Caminho). A produção de 2006 foi indicada ao Oscar de filme estrangeiro, mas perdeu para o alemão A Vida dos Outros.

A história não é necessariamente complicada, como de costume nos filmes da cineasta. No original, um dinamarquês (Mads Mikkelsen, Doutor Estranho) que trabalha num orfanato paupérrimo na Índia é convocado a voltar para seu país para receber uma substancial doação de um rico empresário. Os dois são parte de um segredo que pode transformar a vida deles e de todos ao seu redor.

A refilmagem de Bart Freundlich (Novidades do Amor, as séries Mozart in the Jungle e Californication) toma algumas liberdades, como a inversão do gênero das protagonistas. Agora são uma empresária (Julianne Moore, Para Sempre Alice) e uma assistente social (Michelle Williams, O Rei do Show). Como nos filmes de Susanne Bier a aparente simplicidade da narrativa se desdobra em sentidos vários, na comparação dos dois filmes é possível fazer o mesmo, mas em diferentes culturas.

Na produção dinamarquesa, além dos complexos dramas dos personagens há um claro comentário sobre o conflito de culturas entre países civilizados e emergentes, a riqueza e a pobreza, e uma crítica à aparente insuperável distância entre eles. Já a nova versão foca nos dramas pessoais do quarteto de protagonistas – o casal milionário (Julianne e Billy Crudup), sua filha (Abby Quinn) e a forasteira (Michelle). O mundo dos negócios e das artes dos quais a família participa enfaticamente ganha destaque, refletindo valores mais condizentes à sociedade norte-americana.

Para quem não sabe, Freundlich é marido de Julianne Moore, e já havia reunido a esposa e Billy Crudup em Cidadão do Mundo e Totalmente Apaixonados. O ator está ótimo e a jovem Abby Quinn segura as pontas, mas o show é da dupla Julianne e Michelle. Em tempos de movimentos como o #MeToo e de empoderamento feminino, a refilmagem ganha ainda mais atualidade.

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