Crimes de Família

Parceira frequente de Pedro Almodóvar e diva máxima do cineasta em Tudo Sobre Minha Mãe, a estrela argentina Cecilia Roth (O Anjo) é a força magnética de Crimes de Família. Inspirada em história real, a produção da Netflix se apresenta como drama de tribunal, mas as passagens pela corte servem como recurso narrativo de uma trama muito mais complexa e instigante.

Alicia (Cecilia) vive com o marido Ignacio (Miguel Ángel Solá) no nobre bairro da Recoleta, em Buenos Aires. Sua rotina resume-se a encontros com amigas e cuidados com o filho pequeno da empregada, Gladys (Yanina Ávila), a quem trata quase como um neto. A calmaria acaba com uma ligação da prisão. Seu filho Daniel (Benjamín Amadeo) está detido por atacar a ex-mulher, Marcela (Sofía Gala Castiglione), que se recusa a deixá-lo ver o filho. Esse enredo é entrecortado por sequências enigmáticas, que envolvem uma mulher ensanguentada no que parece ser um banheiro.

Tanto o episódio de violência doméstica de Daniel quanto o assassinato cometido pela moça (de início) misteriosa vão parar nos tribunais. O diretor e corroteirista Sebastián Schindel (O Filho Protegido) desafia o espectador, porque joga com a cronologia dos fatos. Para montar o quebra-cabeça, é preciso testemunhar as transformações que ambos os casos provocam em Alicia, que terá seu paradigma da maternidade posto em xeque.  

Embora escrita e dirigida por homens, Crimes de Família é uma obra essencialmente feminina. Alicia, sua empregada Gladys e a ex-nora Marcela são mães em situações extremas, obrigadas a tomar decisões radicais. Cecilia Roth transborda dignidade como a protagonista, e o resto do elenco segue seu ritmo. Preste atenção também nas colocações da psicóloga (Paola Barrientos) que depõe no tribunal, sobre os efeitos da violência na capacidade de distinção moral da vítima (no caso uma mulher). É impressionante.

Ficha Técnica

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