Cidade de Mentiras

Em 13 de setembro de 1996, o rapper Tupac Shakur foi assassinado com quatro tiros em Las Vegas. Seis meses depois, em 9 de março de 1997, The Notorious BIG foi morto a tiros em Los Angeles. Shakur tinha 25 anos, BIG, 24 anos. Os dois eram pivôs da famosa rivalidade do hip hop entre as costas Oeste e Leste americanas, capitaneada pelas gravadoras Death Row e Bad Boy. Até hoje, nenhum dos dois crimes foi esclarecido. Tupac e BIG entraram para uma estatística assustadora, destacada em Cidade de Mentiras: nos EUA, mais de 50% de assassinatos de afro-americanos ficam sem solução.

Quase 20 anos depois, a morte dos rappers acaba por reunir Russell Poole, detetive aposentado da polícia de Los Angeles, e o jornalista Randall Sullivan, que no filme é chamado de Jack Jackson. Sullivan é também autor do romance não-ficcional Labyrinth, que inspirou Cidade de Mentiras. Poole ganhou fama pela longa investigação do caso, mas caiu em descrédito por não conseguir provar a teoria de que Surge Knight, o cabeça da Death Row Records, orquestrou os dois atentados em conluio com policiais corruptos de Los Angeles. Na medida em que cavam o passado, Jackson se dá conta do preço que Poole pagou pela obsessão por resolver os crimes.

A partir daí, Cidade de Mentiras se alterna, com certa dificuldade, entre o drama familiar e o thriller investigativo. O enredo vai e vem no tempo para mostrar a linha de atuação do detetive, que começa a puxar o fio da trilha de corrupção depois de descobrir os pormenores de uma briga de trânsito envolvendo dois policiais. A questão familiar é pouco desenvolvida e o apuração criminal não sai do convencional. No fim das contas, o mérito do diretor Brad Furman (O Poder e a Lei) é reunir dois astros de primeira grandeza.

Faz tempo que Johnny Depp não aparece em cena sem os trejeitos do pirata Jack Sparrow ou do vilão Grindelwald da franquia Animais Fantásticos. Seu contido Russell Poole nos traz de volta o astro dramático de Donnie Brasco e Em Busca da Terra do Nunca – este último lhe rendeu uma indicação ao Oscar. Depp forma um par e tanto com Forest Whitaker (A Chegada), indicado ao Oscar por O Último Rei da Escócia, e que aqui brilha como o jornalista obstinado que precisa fazer as pazes com a própria ética. Cidade de Mentiras vale por eles.

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