Carro Rei

Grande vencedor do Festival de Gramado 2021, Carro Rei é o tipo de filme que arranca o espectador da “caixinha”. Homens e máquinas fundem-se em uma fábula pop fantasiosa e politizada, que grita pelo meio ambiente e cutuca a face tirânica do universo tecnológico. Em mais uma atuação acachapante, Matheus Nachtergaele é Zé Macaco, mecânico amalucado que mora em um ferro velho e é tio do protagonista, Uno (Luciano Pedro Jr.). O rapaz ganhou esse nome em homenagem ao modelo do carro em que nasceu a caminho da maternidade. E detalhe: desde pequeno, conversa com automóveis.

Traumatizado pela morte da mãe e pressionado pelo pai a abandonar a faculdade de agroecologia para trabalhar na frota de táxis da família, Uno busca refúgio no ferro velho de Zé Macaco. Juntos, eles “tunam” o antigo Uno, que ganha voz e a alcunha de Carro Rei. A trupe completa-se com Mercedes (o ator trans não-binário Jules Elting), uma artista feminista que sente atração sexual pela máquina. Não demora e Carro Rei vira mito na pequena Caruaru, em Pernambuco. É bizarro mesmo, e o desenrolar mais ainda. “O Carro Rei tem o poder de manipulação da psiquê humana”, revela a diretora Renata Pinheiro em conversa por Zoom com OQVER (veja a seguir).

Vale reparar no meticuloso trabalho de fotografia e direção de arte, com imagens, cenários e objetos banhados pelo azul. “Não queríamos uma luz naturalista, porque a fábula pede um mundo de sonho e essa paleta de cores facilita o espectador a entrar na história”, explica Renata, fã fervorosa da ficção científica. A referência a Se Meu Fusca Falasse é óbvia, mas os mais atentos vão achar citações a Planeta dos Macacos e até a E.T. – O Extraterrestre. Já o sexo automobilístico e a reflexão sobre o poder das máquinas renderam comparações com o polêmico Titane, que premiou a cineasta francesa Julia Ducournau com a Palma de Ouro em Cannes. Coincidência temática? Sim, mas Carro Rei tem personalidade própria.

Ficha Técnica

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