Brooklyn - Sem Pai Nem Mãe

Edward Norton estreou no cinema como um jovem acusado de assassinato em As Duas Faces de um Crime, drama de tribunal estrelado por Richard Gere em 1996, que rendeu ao novato uma indicação ao Oscar de coadjuvante. A essa atuação hipnotizante seguiu-se uma ainda mais potente, como o nazista de A Outra História Americana, também indicada ao Oscar, desta vez na categoria principal. De lá para cá, e já se vão mais de duas décadas, Norton nunca decepcionou, seja como o insone de Clube da Luta, o mágico de O Ilusionista ou o perturbado herói de O Incrível Hulk. Todos esses tipos únicos levam ao Lionel Essrog de Brooklyn - Sem Pai Nem Mãe, um de seus personagens mais sui generis. 

Norton produz, escreve, dirige e protagoniza esse legítimo noir, sua segunda incursão atrás das câmeras, depois da comédia romântica Tenha Fé. Lionel Essrog tem síndrome de Tourette, uma condição que provoca inúmeros tiques nervosos. No seu caso, torcer o pescoço, tocar em pessoas e objetos de modo compulsório e brincar com as palavras de forma desconexa. Esse homem esquisito tem memória de elefante, habilidade útil em seu dia a dia como detetive particular da agência de Frank Minna (Bruce Willis), o mafioso que lhe tirou do orfanato e a quem ele tem como pai. Pois é o assassinato de Minna que o protagonista vai investigar incansavelmente, em uma epopeia que o leva do submundo do crime às altas rodas da Big Apple.

O roteiro é inspirado no premiado romance de Jonathan Lethem. O original se passa nos anos 80, mas Norton transporta a trama para a Nova York de 1959, um período marcado pela gentrificação. No Brooklyn, o cenário de especulação imobiliária inclui a expulsão da comunidade negra, e quem tem interesse na truculenta evacuação é o magnata da construção civil Moses Randolph (Alec Baldwin). Também no elenco, Willem Dafoe e a bela Gugu Mbatha-Raw são peças fundamentais da solução do caso.

Brooklyn – Sem Pai Nem Mãe une a elegância sombreada do gênero noir ao engajamento social. Diferente do durão Philip Marlowe, ícone da literatura policial de Raymond Chandler e eternizado no cinema por Humphrey Bogart, Lionel Essrog é uma figura quase patética com seus aflitivos tiques, porém terna e especialmente sensível. São mais de duas hora de duração, mas quem se deixar conduzir por esse cineasta autoral não vai sentir o tempo passar. 

Ficha Técnica

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