Assassinato no Expresso do Oriente

Adaptado de um dos romances mais clássicos de Agatha Christie, a rainha do suspense nas letras, Assassinato no Expresso Oriente (à venda na Amazon) tem agora Kenneth Branagh (Hamlet, Thor) na direção e no papel do imortal detetive belga Hercule Poirot. O elenco é tão estelar quanto o da produção de 1974 de Sidney Lumet, com Albert Finney (1936-2019), Lauren Bacall, Ingrid Bergman (Oscar de atriz coadjuvante), Sean Connery e Vanessa Redgrave.

Branagh reverencia o filme antecessor, mas respeita sobretudo os 47 anos que o separa de Lumet na empreitada. Com roteiro do competente Michael Green (Blade Runner 2049, Logan), uma das investigações mais desafiadoras de Poirot ganha uma encenação grandiosa, com direito a filmagens em 65mm, ritmo envolvente, humor e algumas liberdades poéticas impactantes, como a apresentação de Poirot para as novas gerações e o desfecho.

No interior do luxuoso e tradicional trem que parte de Istambul rumo a Paris acontece um violento homicídio. No tabuleiro das peças do crime, estão o gângster (Johnny Depp), seu assistente (Josh Gad) e seu mordomo (Derek Jacobi), a viúva (Michelle Pfeiffer), a religiosa (Penélope Cruz), a governanta (Daisy Ridley), a princesa russa (Judi Dench) e sua dama de companhia (Olivia Colman), o conde (Sergei Polunin) e sua delicada esposa (Lucy Boynton), o professor (Willem Dafoe) e o médico (Leslie Odom Jr.).

Pode-se argumentar que são muitos personagens, e nenhum deles é desenvolvido a contento, à exceção de Poirot. Mas a presença e existência deles é justificada ao longo da narrativa na medida certa para a resolução do crime. O shakespeariano Branagh não apenas desenha muito bem os personagens e extrai deles performances precisas, como articula câmeras, planos e enquadramentos entre o claustrofóbico ambiente de cores quentes do interior do trem e a paisagem fria e cinza da natureza que os cerca, quando fazem uma parada de emergência no percurso devido à uma forte nevasca, numa metáfora delicada das emoções em jogo entre os personagens.

No entanto, a maior qualidade desta adaptação de Branagh é somar ao estilo único de Agatha Christie para o inventário das vicissitudes da natureza humana, em seu eterno conflito entre o bem e o mal, o espectro da dúvida, da incerteza, da perplexidade pela complexidade de um mundo em que a simetria da ética e da moral já não é mais a mesma e assume formas ainda impalpáveis. 

Ficha Técnica

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